FELICIDADE A QUALQUER CUSTO: O PERIGO DA VIDA SUPERFICIAL

Uma coisa no qual eu lamento muito hoje em dia é o fato da pergunta: “Tudo bem?”, ter se tornado um complemento da educada frase “bom dia”. Considero tal pergunta profunda demais para ser usada de forma automática. Tal questionamento, na minha opinião, deveria ser feito somente mediante a um mínimo de interesse.

A verdade é que ao contrário do que as pessoas respondem ao serem indagadas se estão bem, é que nem sempre estamos. E isso nem sempre significa que a nossa vida seja ruim, visto que tais sentimentos, ao serem compreendidos, podem nos levar a outros lugares.

Tenho a impressão de que a maioria das pessoas, hoje em dia, acreditam que precisam obrigatoriamente estar felizes o tempo todo. Como se no mundo só existissem momentos bons. Aparentar alegria é a fórmula do senso comum, para se viver de modo plástico e falso. Ou mesmo para uma pessoa não revelar sua real condição.

Ser uma pessoa normal é vivenciar vários estados emocionais, desde raiva, alegria, tristeza e medo, entre tantos sentimentos que trazem consigo tanto pontos bons quanto ruins. Emoções que existem por um motivo prático, por isso que é complicado defini-las como ruins, visto que sem elas, estaríamos perdidos.

A tristeza, por exemplo, nos deixa mais pensativos, refletimos e percebemos mais os sinais quando estamos neste estado emocional, sendo que o problema da tristeza é quando ela se torna crônica e se aproxima da depressão. Mas em um estado normal, ela pode ser positiva, conforme explica o psiquiatra Daniel Martins de Barros, no livro O lado bom do lado ruim (2020, p. 44).

Já a euforia e a alegria extrema, visto como algo positivo por muitos, nem sempre é um sentimento tão positivo, já que quando estamos excessivamente alegres, não refletimos. A melancolia ou alguma dose de tristeza, como pontuei, nos faz refletir e pensar um pouco mais, coisa que a extrema alegria não faz. Barros complementa acrescentando que:

“A capacidade de reflexão profunda não é ajudada pela alegria intensa. É difícil admitir, mas o otimismo tem um quê de tolice” (2020, p. 131).

Quem me conhece sabe que eu desconfio daqueles que estão sempre e em todos os momentos de bom humor. Um ser humano normal enfrenta intempéries e problemas, não deixar sermos abatidos por tais adversidades é uma atitude importante, mas disfarçar a tristeza com uma alegria falsa é também algo irreal. Ou quem sabe, tal otimista na verdade seja alguém que reflita pouco sobre a vida e não perceba a sua superficialidade. Fica a dúvida.

O que chamamos de emoções negativas são alarmes que nos ajudam a identificarmos pontos que precisamos dar um pouco mais de atenção. Tais sentimentos são importantes, por isso precisamos aprender a lidar com eles. Sendo que é possível usarmos estes momentos de forma positiva.

Eu, por exemplo, reflito e escrevo muito, em meus momentos mais melancólicos, uso tal condição para pensar e construir conteúdo. Nem sempre é fácil lidar com um problema, mas dar a devida atenção entendendo seus pontos positivos, já ajuda muito.

A alegria a qualquer custo nos leva a sermos superficiais, a relevância não se constrói com disfarces, mas mergulhando e entendendo a questão. Eu sempre digo que sou muito feliz, mas nem sempre estou alegre. Alegria e felicidade são sentimentos bem opostos. O primeiro se trata de algo momentâneo que alguém vive. Já o segundo se trata de um estado de satisfação interna, que nada e ninguém tira de você, muito menos os períodos de tristeza.

Por isso, aprenda a olhar estes momentos com um outro olhar, colhendo assim, frutos de momentos vistos como ruins. O que aparentemente pode ser um dia melancólico, pode virar uma ferramenta para você produzir e construir o saber. Tudo vai depender de como você vê tais momentos.

O chamado lado ruim, tem alguns outros lados bem positivos, aprenda a usá-los!

BIBLIOGRAFIA

BARROS, Daniel Martins. O lado bom do lado ruim: Como a ciência ensina a usar a tristeza, o medo, a raiva e outras emoções negativas a seu favor. Rio de Janeiro: Sextante, 2020.

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