Não é tão difícil transformarmos coisas importantes ou mesmo sagradas, em banais. Com o tempo a Bíblia sagrada vira um simples livrinho e o culto uma reunião comum, onde nós precisamos apenas cumprir um protocolo. Em nome de deixamos o ambiente cristão menos formal, uma atitude que eu acredito ser muito positiva, terminamos por perder a reverência por aquelas coisas que são essenciais. E este é um dos desafios da vida cristã.
Gosto muito de ler sobre outras religiões, tenho uma curiosidade em tentar entender o porquê alguém segue determinada fé. E o judaísmo é uma destas religiões que têm muito a nos ensinar e neste texto, eu quero falar um pouco sobre o Schabat e de uma lição indispensável que podemos aplicar em nossa vida.
O Schabat tem o seu início em Gênesis (2:1-3), quando Deus criou o mundo em seis dias e separou o sétimo para descansar. Sendo que o sétimo dia seria um dia sagrado, conforme o texto Bíblico informa (Gênesis 2:3). É neste texto que o Schabat tem a sua origem, é por isso que para um Judeu o sábado é um dia sagrado, visto que a própria Bíblia diz que o descanso e o culto a Deus são fundamentais. Abraham Joshua Heschel explica que ao invés de Deus criar um local Santo ou um objeto Santo, ele separou um dia, um tempo que seria consagrado (HESCHEL, 2014, p. 17).
Uma mente um pouco mais mística esperaria que Deus estabelece um local ou uma pedra do poder, mas ele separou um tempo. Sendo que foi apenas em um momento depois, após o povo ter adorando o Bezerro de ouro, que o tabernáculo foi erigido e a santidade tomou lugar também do espaço, conforme explica Heschel (2014, p. 17).
Heschel pontua que em primeiro lugar veio a santidade do tempo, quando Deus instituiu o sábado para o descanso, em segundo lugar veio a santidade do homem, quando Deus escolheu um povo e os fez Santos, depois veio a santidade do espaço, quando Moisés construiu o Tabernáculo (Números 7:1) (2014, p.17-18). Heschel complementa explicando que:
“O significado do Schabat é, antes, o de celebrar o tempo, e não o espaço. Seis dias da semana vivemos sob a tirania das coisas do espaço; no Schabat tentamos nos tornar harmônicos com a santidade do tempo” (2014, p. 19).
Neste sentido podemos aprender muito com o Schabat, visto que, nós cristãos erramos muito quando muitas vezes não separarmos o devido tempo para Deus, seja para orar ou estudar a palavra. Diante disso, seguimos abandonando o que é essencial pelo caminho e aderindo as coisas que não são tão fundamentais.
Não quero com este texto defender a ideia de que precisamos guardar o sábado, continuo crendo que a lei foi ressignificada (Gálatas 2:15-16, 3:10-14), não somos salvos pela lei e sim pela graça, mas o Schabat nos mostra o quão importante é separarmos o nosso momento com Deus, para falar com Ele e estudar a Sua palavra. Por mais que um cristão não guarde o sábado, isso não significa que não deveríamos ter o nosso tempo com Deus bem estabelecido, para assim não negociamos um momento muito rico e essencial, por migalhas do mundo.
Cumprimos as nossas demandas, somos pontuais no trabalho ou com as nossas coisas, mas muitas vezes esquecemos das coisas de Deus. Trocamos o que é eterno, pelas coisas terrenas. E é neste sentido, que os Judeus podem muito nos ajudar. A prioridade deles com a sua fé e com o estudo da Torá, é realmente impressionante.
É fácil trocarmos o que é prioritário, por coisas secundárias, fazemos isso sem ao menos perceber. E é neste momento que eu fico constrangido com a reverência e com o compromisso que a maioria dos judeus tem e envergonhado com os cristãos. Ao ler este livro do Abraham Joshua Heschel eu percebi como o Schabat, neste mundo que prioriza tudo, menos o indivíduo, pode virar um princípio, uma ferramenta para não esquecermos de priorizar Deus.
Não precisamos guardar o sábado, mas podemos aprender a separar um tempo para as coisas que são essenciais para a nossa fé. Precisamos aprender a termos reverência com as coisas de Deus, buscando sempre, colocar como prioridade o nosso tempo com Ele. Lembrando de uma coisa que eu sempre falo: “Ninguém tem tempo, sendo que o tempo é uma prioridade”. Por isso, separe um tempo, não se esqueça de Deus.
BIBLIOGRAFIA
HESCHEL, Abraham Joshua. O Schabat: Seu significado para o homem moderno. São Paulo: Perspectiva, 2014.
