Considero realmente desafiador falar qualquer coisa sobre Deus e isso se dá, não por desconhecer a Bíblia e a teologia, e sim, por ter entendido a imensidão, a infinitude e soberania de Deus. E seria uma atitude arrogante, querer definir e explicar de forma inesgotável, quem Deus é. Cabe a nós estudarmos e entendermos a sua palavra, a Bíblia, mas mesmo ela, será sempre limitada ao falarmos de Deus, visto que ele é muito maior do que imaginamos e do que a própria palavra fala, mas ela é o que conseguimos entender e assimilar, por isso, se contente com estas explicações.
Foi Pseudo-Dionísio Aeropagita, uma figura desconhecida, confundida com o juiz Dionísio, no qual foi convertido em um discurso proferido pelo apóstolo Paulo no Aerópago, que formulou o que denominamos de teologia apofática ou negativa. Seu pensamento se ressume na afirmação de que Deus só pode ser conhecido pelo desconhecimento, quando negamos qualquer atributo a ele (ANTISERI et al, 2020, p. 434-435).
Podemos resumir o seu pensamento da seguinte forma, ao negarmos tudo o que afirmarmos sobre Deus, seja a sabedoria, bondade ou poder, colocamos ele em outra categoria, em um grau mais elevado e superior, já que Deus está acima de qualquer categorização e também de qualquer compreensão humana. Ao colocarmos Deus neste patamar de mistério e de incognoscibilidade, percebemos a sua superioridade e com isso, passamos a conhecer realmente Deus, por entendermos que é impossível o conhecermos ou racionalizarmos (ALLEN et al, 2017, p. 112). Philotheus Boehner e Etienne Gilson complementam:
“Ao invés de proceder do alto, ela parte das criaturas mais humildes, negando de Deus o que lhes delimita a finitude, e terminando por verificar que Deus, em sua absoluta transcendência, esconde-se nas trevas do mistério” (2021, p. 11).
Ao invés de usar elementos que buscam explicar Deus a partir dele, usando a sua trindade, a bondade ou sabedoria como ponto de partida, ele faz o caminho inverso, negando qualquer explicação que delimite Deus e o coloque em padrões finitos.
É comum ao tentarmos explicar Deus, criarmos algo que ele na verdade não é, uma explicação que acaba sendo muito mais um ídolo, do que uma explicação resumida dele. Deus é incognoscível e por mais que a Bíblia revele quem ele é e pontuar que Jesus é a revelação de Deus (Colossenses 1:15), nós jamais conseguiríamos explicar, resumir e pontuar de forma exaustiva Deus. Qualquer conclusão ou explicação sobre ele, vindo de nós, criaturas finitas, será sempre uma conclusão simplista.
Ao largar o controle e não delimitar quem Deus é, passamos a realmente conhecer Deus, ao não definir, entenderemos a sua soberania e manteremos Deus em seu inesgotável e soberano lugar.
Quanto mais eu estudo a Bíblia, busco a Deus e tento compreender a sua palavra, mais eu percebo a minha insignificância e a dimensão de Deus. Não há como resumi-lo, explica-lo ou quantifica-lo sem cometer inúmeros equívocos. É melhor nos calar e aceitar a sua inesgotabilidade.
E por mais que você não aceite o pensamento total do Pseudo-Dionísio, entender que Deus é muito maior do que imaginamos é o passo mais coerente que todo o cristão deveria dar. As vezes acreditamos conhecer, por conta apenas da nossa ignorância, por não percebermos a sua dimensão e o tamanho do seu poder.
Deus é tão grande, tão soberano e infinito que delimitar quem ele é, através de nossa finita reflexão termina por ser um erro. Com isso, opte por se entregar a sua imensidão sem querer delimitá-lo!
BIBLIOGRAFIA
ALLEN, Diogenes; SPRINGSTED, Eric, Filosofia para entender teologia, Editora Paulus; Editora Academia Cristã, São Paulo, 2017.
ANTISERI, Dario.; REALE, Giovanni. Filosofia: Antiguidade e idade média. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2020.
BOEHNER, P.; GILSON, E. História da filosofia cristã. 13. ed. Petrópolis: Vozes, 2021.
