O CRISTIANISMO PRÁTICO E A ROTINA RELIGIOSA

A Bíblia é a palavra de Deus! Tal frase pode parecer meio óbvia, mas em tempos onde a Bíblia é lida por poucos cristãos, creio que o óbvio precisa ser dito. O ser humano constantemente cai em um contínuo automatismo, se esquecendo das coisas que são centrais e valorizando hábitos que de longe são essenciais para a fé. Ele vai a igreja todos os domingos, menos a Bíblia, ele é voluntário na igreja todos os dias, mas não busca voluntariamente a Deus em sua casa. Com isso, ser cristão vira sinônimo de frequentador de igreja, a prática é substituída pelos ritos vazios.

David Foster Walllace, em um conhecido texto chamado: “Isto é água “, trabalha justamente a questão da vida automática quando conta a história dos dois peixinhos. Ele começa contando que: “Dois peixinhos nadavam tranquilamente quando um peixe um pouco mais velho pergunta: Como está a água? Sendo que depois de um tempo os dois peixinhos se olham, com aquele ar de dúvida e se perguntam: O que é água?” (2021, p. 263). A vida daqueles peixes estava tão no automático que eles nem sabiam mais o que era água. Eles nadavam, sem qualquer consciência dos pontos fundamentais para a sua existência.

A vida cristã é muito semelhante, visto que, é possível seguirmos tão no automático que todos os pontos que são fundamentais viram rotina, um mero ritual a se seguir. Sendo que ser cristão é muito mais um estilo de vida, como eu sempre pontuo, do que seguir uma agenda.

Não sei bem o que precisa acontecer para o ser humano valorizar o que é essencial, mas aprender a sair do automático para que a fé não seja um estilo de roupa, um tipo de música e uma linguagem, é uma ação fundamental, para que enfim o ser humano consiga ser realmente sal e luz na vida das pessoas.

Quando não oramos ou lemos a Bíblia, Deus vira aquela ideia abstrata, fruto de crenças que não são vividas por inteiro e de forma genuína. Torna-se apenas teoria ou um rito, que é preciso ser cumprido.

Costumo falar que existe o cristão e o religioso. O cristão é aquele que busca viver o evangelho. O religioso é uma pessoa que frequenta a igreja e segue um ritual vazio. No mesmo culto, dependendo apenas do posicionamento de cada indivíduo, é possível encontrar estas duas situações. Sendo que é fácil trocar as prioridades quando em meio ao ativismo vamos negociando nossos valores.

O cristianismo prático é vivido com os joelhos no chão, com o estudo da palavra e a leitura. Não há como falar de algo que você não vive e muito menos conhece. Este cristianismo é um estilo de ser, é aquela prática vivida no dia a dia, fundamentada na palavra e na vida de oração diária.

É uma vida desafiadora, eu sei bem disso. Nem sempre é fácil manter tais hábitos, ainda mais em nossos dias hiperconectados e com os inúmeros compromissos profissionais que assumimos. Mas conseguir priorizar, deve ser uma das nossas ênfases, não negociar aquelas coisas fundamentais, é o melhor ponto de partida.

Cuidado para não trocar o que é essencial, por ritos vazios, lute contra a sua agenda, e comece priorizando o que é importante. Relembrando algo que eu sempre falo: “Ninguém tem tempo, tempo é muito mais uma prioridade”, por isso, priorize as coisas de Deus. Comece orando e lendo, foque em fortalecer o hábito, para depois ir ajustando para um período adequado. Opte por um primeiro passo, para depois chegar no que é ideal.

Que Deus nos ajude a termos uma vida que o agrade, que possamos realmente viver um evangelho na prática, fugindo das meras teorias. Que consigamos desaprender a viver esta vida cristã banal, para vivermos o evangelho genuíno!

BIBLIOGRAFIA

WALLACE, David Foster. Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.

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