FATOS EM TEMPOS DE PÓS-VERDADE

Hoje é abundante o número de pessoas que se guiam muito mais por seus anseios e pontos de vistas, do que pela verdade dos fatos. Isso acontece justamente porque é fácil encontrar argumentos que corroboram com um ponto de vista. A internet ampliou o cardápio e o relativismo, transformou a verdade em um conto de fadas. A nossa política tem provado justamente isso, mostrando como é fácil manipular a opinião, usando como ferramenta a pós-verdade para modificar fatos ou adulterar a realidade.

Stephen Hicks argumenta que a ideia de que o ser humano entrou em uma nova fase intelectual é bem popular em nossos dias. Estamos na pós-modernidade hoje. Alguns pensadores informam que o modernismo acabou e um tempo revolucionário se ascendeu – são dias de liberdade em relação as estruturas que oprimiam o ser humano no passado (2021, p. 7).

Todavia, o que mais vemos são discursos inflamados e a verdade sendo manipulada. Bons argumentos partem de provas e fatos, já a pós-verdade, parte de discursos emocionais, que passam longe do que é genuíno. Pós-verdade não é sinônimo de mentira e sim, pode ser definida como uma verdade distorcida que muitas vezes até parte de uma verdade, contudo, tem em seu âmago um conceito manipulado.

A pós-modernidade trouxe em seu bojo a chamada pós-verdade, que nada mais é do que um discurso fervoroso, que distorce a verdade e que parte muito mais de argumentos emotivos do que dos fatos propriamente dito. Sendo que eu tenho visto tal fenômeno há muito tempo seja dentro da igreja ou fora dela e infelizmente, ele tem ganhado cada vez mais força. D’ancona complementa:

“Pós-verdade não é a mesma coisa que mentira. Os políticos, afinal, mentem desde o início dos tempos. O que a pós-verdade traz de novo “não é a desonestidade dos políticos, mas a resposta do público a isso. A indignação dá lugar à indiferença e, por fim, à convivência […]”” (D’ANCONA, 2018, p. 9-10).

Por fim, após um mar de informações, com a verdade virando instrumento para manipular opiniões, a indiferença dá lugar a toda a indignação, o excesso causa uma dormência mental e assim, o ser humano segue no rumo das injustiças.

Alain de Botton em seu livro: Notícias: Manual do usuário, pontua justamente isso ao explicar como o excesso de notícias, sem o mínimo de explicação do contexto no qual a notícia está sendo passada, é o suficiente para estragar a capacidade das pessoas de compreender a realidade. Botton explica que:

“Uma enxurrada de notícias, e não a sua proibição, seria o suficiente para deixar o status quo inalterado para sempre” (2015, 29).

Um fato vira mera notícia casual, uma mentira se confunde com a verdade e o ser humano segue inerte por conta dos excessos. Uma pessoa, normalmente, já lê e estuda pouco, somando isso, com o mar de informações, por fim, a apatia termina por surgir.

Uma profusão de informações, sem a visão real do contexto ou mesmo sem o conhecimento fundamentado dos fatos, realmente modifica uma realidade. Ou o ser humano muda a sua mentalidade, buscando veículos sérios, sendo seletivo e cultivando uma rotina de estudos. Ou ele será sempre o alvo desta enxurrada de pós-verdades.

A tecnologia é uma benção, a capacidade de podermos ter acesso a informação, conhecimento ou mesmo de poder postar conteúdo, é um privilégio. Só precisamos ter cuidado e desenvolver uma mente seletiva, evitando assim, consumir conteúdos de certos veículos de comunicação ou mesmo buscar se informar mais.

Quem tem informação, tem poder, segundo o adágio popular, porém, nos dias de hoje não é só isso. Um indivíduo com informação e conhecimento, consegue ter uma reflexão centrada e não será manipulado por fatos distorcidos.

Por isso, como eu sempre insisto aqui no blog, estude, leia e construa o seu conhecimento para que você não seja massa de manobra. Quem tem repertório é mais assertivo em suas reflexões!

BIBLIOGRAFIA

BOTTON, Alain. Notícias: Manual do usuário.Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015.

D’ANCONA, Matthew. Pós-verdade: A nova guerra contra os fatos em tempos de Fake News. Barueri: Faro Editorial, 2018.

HICKS, Stephen R. C. Guerra cultural: Como o pós-modernismo criou uma narrativa de desconstrução do ocidente. São Paulo: Faro Editorial, 2021.

Deixe um comentário