PENSAR EM EXCESSO: O MAL DO SÉCULO

Eu admiro demais alguns pensadores, muitos criaram conceitos, filosofias ou soluções para problemas filosóficos realmente impressionantes. E uma coisa que a maioria deles tem em comum é o período de reclusão ou de contemplação. Quem gosta de escrever e estudar sabe o quão importante é se desconectar e tirar um tempo de qualidade para estas atividades.

Acalmar a mente, fugir dos excessos é um ponto fundamental para a imaginação. Não é possível seguir hiperconectado e ao mesmo tempo criativo e produtivo. Pensar demais ou se preocupar em demasia é um veneno para a criatividade e para a saúde mental. Augusto Cury explica que:

“Pensar é bom, pensar com consciência crítica é melhor ainda, mas pensar excessivamente é uma bomba contra a qualidade de vida, uma emoção equilibrada, um intelecto criativo e produtivo” (2014, p. 98).

A vida acadêmica exige um ambiente, é imprescindível criar um espaço para que a criatividade e o foco fluam, caso contrário, caminharemos aos tropeços na via da produção acadêmica. É impossível ter dois focos ou estudar em um local inadequado com barulhos e distrações, por isso que, criar um espaço é uma ação importante.

E para a nossa rotina diária, é igualmente fundamental aprendermos a parar, se desligar e aproveitar um pouco mais o lugar, o tempo e o ambiente que nós estamos vivenciando.

Creio que a palavra “estar presente” é a que resume o propósito deste texto, visto que, a internet e as redes sociais impediram que o ser humano estivesse realmente presente em um lugar. Já não bastam as distrações corriqueiras, temos mais um empecilho para lidar.

Por isso, quando estiver estudando, esteja realmente no processo de estudos. Desligue os aparelhos que distraem e mergulhe neste importante tempo de construção do saber. Caso contrário, o seu foco dividido em mais de uma coisa, prejudicará a absorção do conhecimento. E quando estiver visitando um local, ou conversando com um amigo, esteja neste lugar de corpo e mente. Converse, escute, aprecie o local. Sendo que para isso, aprender a parar, estar em solitude e refletir, é um ponto de partida definidor. A pessoa que não para e não pratica a contemplação, não consegue ver, admirar e escutar, está sempre respondendo aos estímulos. Hoje poucos estão realmente presentes e a hiperconectividade tem prejudicado a saúde mental de muitas pessoas justamente neste quesito.

O silêncio é poderoso, saber se calar, seja interna ou externamente é o princípio para conseguir ouvir, observar e realmente ver. A internet, que é ótima, tem sido usada de forma equivocada, gerando pessoas ansiosas e com a mente hiperpensante.  

Maryanne Wolf, uma importante neurocientista, no livro: O cérebro no mundo digital, após pontuar várias consequências negativas das pessoas que estão sempre conectadas na internet, pontua que:

“A relação crítica entre a qualidade de leitura e a qualidade do pensamento é fortemente influenciada pelas mudanças na atenção e por aquilo que chamei, mais intuitiva do que cientificamente, paciência cognitiva” (2019, p. 109).

O excesso de estímulos prejudica áreas onde a paciência é fundamental, como em um momento de leitura, reflexão e escrita. Muitos por não aprenderem a se desligar, tem seguido impacientes, sem qualidade em seus pensamentos e sem qualidade de vida. Com isso, poucos acabam lendo de forma profunda ou ouvindo as pessoas de modo sincero e verdadeiro.

Aprender a se desligar e colocar limites tecnológicos é cultivar uma mente sadia, reflexiva e saudável. Capaz de exercer um trabalho intelectual de qualidade e ter uma vida onde o indivíduo é o protagonista e não os estímulos da internet.

A verdadeira liberdade reside na capacidade de fazermos aquilo que não queremos, mas que é fundamental para nós. Aprenda a ser livre e construa limites!

BIBLIOGRAFIA

CURY, Augusto. Ansiedade: Como enfrentar o mal do século. São Paulo: Editora Saraiva, 2014.

WOLF, Maryanne. O cérebro no mundo digital: os desafios da leitura na nossa era. São Paulo: Contexto, 2019.

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