POLÍTICA E ANTIPOLÍTICA

Gosto do diálogo, acredito que bons argumentos possuem o poder de influenciar, sem que a força ou imposição seja usada. Aquele que sabe falar, consegue através de uma boa conversa, pontuar um problema e convencer alguém sobre um equívoco. A capacidade de dialogar é algo fundamental.

E quando falamos de democracia e um bom ambiente político, discorremos justamente sobre isso. Ideias, crenças e opiniões não são (ou não deveriam ser) combatidos e sim, discutidos a partir de bons diálogos. Madeleine Lacsko discute justamente este tema, quando pontua que:

“Todo embate político precisa deixar pontes para uma saída honrosa do adversário, já que o objetivo é o convencimento. A antipolítica consiste na queima de pontes, execração pública e corte de qualquer contato utilizando justificativas morais. Na antipolítica, o divergente é necessariamente mau e a única forma de lidar com ele é a aniquilação” (2023, p. 37).

Em meio a nossa cultura do cancelamento, onde não há vez para o diálogo e muito menos para a opinião oposta. Onde adversários políticos são caçados e quem pensa diferente é visto como inimigo, a antipolítica e o totalitarismo criam suas raízes.

É fácil pegar uma pauta genuína e tentar lacrar, para assim vender uma pseudoverdade ou mesmo para ganhar likes e fama de bom moço. Agora dialogar é sempre um desafio. Envolve ouvir, ter contato com a opinião diferente da nossa e refletir. No final, o que mais vemos são apenas narrativas construídas muitas vezes a partir de importantes pautas.

Saber lidar com ideias divergentes é a constatação de uma política realmente coerente, o contrário disso é totalitarismo, uma antipolítica de desconstrução. Onde não existe diálogo e espaço para o contraditório, muito menos boas intenções.

Viver em uma sociedade democrática é de forma resumida transitar em um ambiente com as mais diversas visões políticas, sendo que um regime político saudável se resume em um lugar onde todas as visões coexistem. Você pode não gostar da opinião oposta, mas ela precisa existir, isso é democracia.

Um país onde a pluralidade de ideias não tem vez, onde a oposição é calada e não pode existir, onde opiniões divergentes são vistas como afrontas e são combatidas, é um país totalitário. Fatos vistos em inúmeros países comunistas e começa a ser visto também no Brasil.

Uma certa perseguição ao pensamento contraditório tem sido empreendida, adversários políticos estão sendo caçados e a verdade calada, como se fosse uma mentira.

Saber lidar com ideias divergentes é a prova de uma política realmente coerente e madura, o contrário disso é totalitarismo, é uma antipolítica de desconstrução. Ou dialogamos em busca de soluções. Ou seguiremos com discursos vazios, tendo em seu núcleo, propósitos obscuros e não a busca por saídas realmente concretas para os problemas da nossa complicada sociedade.

Dialogar é uma arte, é saber falar e escutar, sendo que não é porque alguém discorda que ele é um inimigo. Luto por um ambiente de respeito onde as ideias e pontos de vistas possam existir com respeito e harmonia. Não é errado discordar, o erro é não dialogarmos em busca de uma política cada vez melhor.

A liberdade não tem preço, sendo que o menor sinal da falta dela, serve de alerta para prestarmos atenção ao modelo de governar do nosso país. Não importa a sua corrente política, a questão é que você não deveria aceitar a imposição e a perseguição que alguns políticos travam aos seus adversários.

Se não pudermos opinar ou discordar, estaremos aceitando a imposição, e isso é o princípio do totalitarismo de regimes políticos que não aceitam discordâncias.

BIBLIOGRAFIA

LACSKO, Madeleine. Cancelando o cancelamento: Como o identitarismo da militância tabajara ameaça a democracia. São Paulo: LVM Editora, 2023.

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