Houve um tempo onde as coisas eram bem mais simples e não existiam tantas militâncias ensandecidas tentando descobrir um erro em uma inocente frase. Hoje as palavras são medidas e averiguadas com o intuito de verificar se não há um duplo sentido nefasto em algum termo. Lembrando que para eles, os errados são sempre os outros, nunca eles.
Diante destes fatos, é impossível não lembrar do livro 1984 de George Orwell, visto que no livro, havia o Ministério da Verdade, pronto para determinar o que era ou não verdadeiro, segundo os seus propósitos, além de um idioma próprio, imposto a todos. Para um livro lançado em 1949, ele ainda é muito atual.
Compreendo que algumas palavras ou termos podem ser grosseiros e ofensivos, contudo, a patrulha ideológica estabelece como ofensivos termos totalmente inocentes, além de obrigar as pessoas a usar um tipo de linguagem que transcende a lógica. E quem não se comunica desta forma, é ignorante, sendo que, a pior parte é a imposição.
O politicamente correto tem crescido cada vez mais em nossos dias. O princípio do pensamento é que o ser humano é bom, contudo, é corrompido pelo capitalismo, pela religião e os chamados conservadores (um termo que hoje é usado de forma errada). Pondé tece críticas bem ácidas a eles quando diz que:
“O problema com o politicamente correto é que ele acabou por criar uma agenda de mentiras intelectuais (filosóficas, históricas, psicológicas, antropológicas etc.) a serviço do “bem”, gerando censura e perseguições nas universidades e na mídia para aqueles que ousam pôr em dúvida suas mentiras “do bem”” (2012, p. 32).
Perceba que é normal tais militantes falarem do cristianismo, pontuando como tal religião na Idade Média, perseguiu muitas pessoas através da Inquisição, mas eles não falam das perseguições em países comunistas, por conta de opiniões divergentes ou credo religioso. O mesmo acontece com o capitalismo, que é pai de todas as atrocidades do mundo, segundo estes, mas o comunismo em nenhum momento também é criticado pela profusão de atrocidades que cometeu.
Cuidado com as “mentiras do bem” do politicamente correto e com toda a distorção da história, realizado em nome de um ideal. Uma coisa é dialogarmos e brigarmos por respeito diante das injustiças que acontecem no mundo. Outra coisa é construir narrativas deturpadas, em nome de estabelecer uma falsa verdade.
Eu sempre digo que o cerne do problema é o ser humano, por isso que, ideologias políticas sempre serão falhas, visto que, é um reflexo da forma falha de pensar, que todos os seres humanos têm. É por isso que o diálogo, precisa existir. Com o diálogo, conseguimos ver os pontos incoerentes e ajustar uma política coerente com a realidade.
Temo a militância, principalmente porque com eles não existe diálogo, apenas aquela imposição que o totalitarismo tem. E a falta de diálogo já construiu inúmeros problemas, tudo feito “em nome do bem”. Sem contar com toda a mentira, disfarçada de verdade e o relativismo, usado para desconstruir bases importantes.
O autoritarismo impede o diálogo e a construção de um mundo melhor, pautado no respeito a diversidade de crenças e opiniões. Quando eu imponho, me abstenho de ouvir e entender algo a partir do outro.
Respeito todas as formas de pensar, por isso mesmo, não acredito que a minha opinião precise ser o padrão para tudo. Liberdade e respeito, são termos que precisam caminhar juntos e quando isso não acontece, precisamos abrir os olhos.
BIBLIOGRAFIA
PONDÉ, Luiz Felipe. Guia politicamente incorreto da filosofia: Ensaio de ironia. São Paulo: Leya, 2012.
