CRISTIANISMO E PÓS-VERDADE

Certo dia fui assistir um sermão em um culto diferente e fiquei muito impressionado com a fala do pregador. O rapaz que era bem jovem, sabia comunicar super bem, a parte complicada era que tudo o que ele falava não partia da Bíblia. Era muito mais um discurso motivacional do que uma pregação.

Ao ouvir um sermão, o que eu levo muito mais em conta é se o conteúdo que o pregador está falando parte da Bíblia. Um sermão emocional e inflamado não me toca, a exposição bíblica sim. É algo realmente profundo ouvirmos um pregador comprometido com a palavra.

Eu creio que falar bem é muito importante, é legal estudar bons métodos de oratória para desta forma, poder passar a mensagem de um modo mais claro e efetivo, mas o cerne de uma pregação é a Bíblia. Se eu, acima de tudo, não estudar a palavra e usar apenas técnicas de oratória, terei certamente perdido o propósito da pregação. Eu costumo sempre falar que: “Nem todos os que falam bem, falam certo”. E isso é uma grande realidade na igreja. Ainda mais hoje que a falta de estudo e leitura é grande dentro da igreja, seja de estudo Bíblico ou de obras de autores importantes.

É fácil distorcer os fatos ao partirmos de uma verdade e assim, descontextualizá-la. Ainda mais quando falamos da Bíblia, que possui um texto que demanda estudo e interpretação. Uma mensagem emocional, que foca muito mais na oratória e na emoção do que no texto bíblico, é bem próximo daqueles discursos de pós-verdade. A sua base é a emoção e não o conteúdo, os fatos ou a verdade Bíblica, são pontos secundários.

O significado de pós-verdade, segundo o Oxford Dictionaries, conforme pontua D’Ancona é:

“[…] situação onde os acontecimentos reais tem pouca influência em construir uma opinião pública do que as apelações emocionais e os pontos de vistas pessoais” (D’ANCONA, 2018, p. 20).

Ou seja, para a pós-verdade o que vale é a emoção e não os fatos, as opiniões particulares e não a verdade. Com isso, a Bíblia acaba sendo moldada partindo de pontos de vistas pessoais, a sua mensagem segue sendo adaptada para os diversos fins, menos para comunicar o ensino e a vontade de Deus.

E isso acaba sendo perigoso, visto que a Bíblia tem a sua mensagem, a nossa missão é estudar e descobrir o que ela quer nos ensinar e não construir um significado. A Bíblia interpreta a própria Bíblia, segundo uma das regras da hermenêutica, não precisamos criar ideias, basta estudarmos e deixarmos a própria Palavra de Deus falar. Lund e Nelson ensinam algo realmente fundamental sobre a disposição para o estudo da Bíblia:

“Portanto, para o estudo e boa compreensão da Bíblia necessita-se, pelo menos, de um espírito respeitoso e dócil, amante da verdade, paciente e munido de prudência” (2011, p. 17).

Ter paciência e prudência é fundamental para um bom tempo de estudo da palavra de Deus. Amar a verdade e fugir dos apelos emocionais é indispensável. Uma boa pregação é fundamentada na Bíblia e não é parte de uma fala emocional.

O cristão precisa influenciar o mundo, ser luz, mas sem dúvidas, partindo sempre da Bíblia e não de opiniões próprias. Ou nos fundamentamos com a verdade, ou seguiremos as técnicas da pós-verdade, acreditando que um discurso emotivo já é uma mensagem cristã.

BIBLIOGRAFIA

D’ANCONA, Matthew. Pós-verdade: A nova guerra contra os fatos em tempos de Fake News. Barueri: Faro Editorial, 2018.

LUND, E.; NELSON, P. C. Hermenêutica: princípios de interpretação das sagradas escrituras. São Paulo: Editora Vida, 2011.

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