CRISTÃOS NARCISISTAS

Gosto de reler alguns livros, existem autores que eu releio quase todos os anos. O bom livro é aquele que você lê mais de uma vez e ainda é tocado por ele. E uma das leituras recentes foi um livro do Ricardo Barbosa chamado Identidade perdida.

É incrível perceber como já no primeiro capítulo o autor consegue definir de forma muito assertiva a realidade da nossa sociedade tecnológica, isso que o livro não é tão novo. Como eu havia lido este livro há muito tempo, eu não lembrava e me impressionei ao perceber a coerente leitura que o autor faz do nosso cenário político atual e como ele fala de temas como política, corrupção, do vazio do ser humano e de todo o nosso contexto político e religioso, com uma atualidade muito grande.

A verdade é que o ser humano segue vazio, tentando preencher esse espaço que só Deus pode preencher. O homem insiste em buscar a razão para sua existência em inúmeras coisas, sem perceber que é só Deus que consegue dar sentido a nossa existência.

Neste primeiro capítulo o autor foca no egoísmo humano no geral, mostrando como esse egoísmo é bem escancarado. Me toca o exemplo que ele dá quando diz que, algumas décadas passadas, quando uma mulher entrava em um ônibus, os homens levantavam para dar lugar, não precisava a mulher estar grávida ou ser uma idosa. Existia uma educação e uma nobreza que está em falta em nossos dias.

O ser humano insiste em querer apenas ser servido, ele olha apenas para si e esquece dos outros, da vida e de estender a mão ao próximo, enfim, o egocentrismo é sempre o seu ponto de partida. O ser humano está a cada dia perdendo a sua humanidade ao focar penas em si. Ter a consciência de que não existimos sem o outro é fundamental, para assim, conseguirmos mudar a nossa atitude.

No segundo capítulo ele faz essa mesma crítica, mas dessa vez dirigindo-se a igreja, ele argumenta que ela está cada vez mais narcisista, interessada apenas em ter seus desejos, sonhos e planos respondidos.

O cristianismo possui uma natureza bem pessoal, seguimos a Cristo, sendo que, ao segui-lo, temos um padrão que vem dele. E como consequência de sermos seguidores de Jesus, servimos também ao próximo.

A vida cristã egoísta, segundo a Bíblia, é contraditória. Ser um seguidor de Cristo é não estar fechado em nossos desejos pessoais ou apenas buscar satisfazer as nossas vontades. Ricardo Barbosa enfatiza justamente isso quando diz que:

“O mandamento de Cristo envolve “amar a Deus e ao próximo”, e isso requer um relacionamento pessoal […]” (2014, p. 42).

Seguir a Cristo nos faz discípulos, mas também nos leva a servirmos. Um discípulo de Jesus é alguém que também faz discípulos. Assim sendo, não há lugar para uma vida narcisista e autocentrada no cristianismo. Novamente Ricardo Barbosa define de forma assertiva o narcisismo impregnado no comportamento humano quando diz que:

“O narcisismo é uma disfunção de caráter que tem dominado o cenário cultural, arrastando consigo os cristãos. O comportamento narcisista é definido como um sentimento de autoestima elevado, auto-absorvido, com fantasias de sucesso ilimitado, poder, inteligência, beleza ou amor ideal, alimentado pela crença de ser “especial”, que leva a explorar relacionamentos em busca de admiração […]. Para um narcisista, a realidade é concebida apenas dentro de seu universo fechado e egoísta” (2014, p. 27).

É muito perigoso termos uma opinião por demais elevada sobre nós, ao mesmo tempo que a baixa autoestima também é nociva. O equilibro é fundamental para conseguirmos ser cristãos centrados. O narcisismo nos leva a termos um comportamento autocentrado, que nos faz esquecermos do próximo. Não podemos esquecer que o mundo não gira em torno do nosso umbigo.

Quem me conhece e acompanha o meu site sabe que eu tenho a mesma opinião tanto da igreja quanto da sociedade. É visível o fato que a igreja está cada vez mais parecida com o mundo. Em vez de influenciar a sociedade com o evangelho, ela está se deixando moldar por ensinos equivocados.

É triste vermos o ser humano cada vez mais centrado em si, se esquecendo do próximo e é triste ver a igreja reproduzindo este mesmo comportamento. Ser Cristão é estar em comunhão, caminhando juntos. A igreja, como ele diz no livro, é uma pessoa, a igreja é Cristo e nós somos o corpo, por isso que a união é imprescindível.

O cristianismo é uma prática comunitária onde o egoísmo e o narcisismo não têm espaço!

BIBLIOGRAFIA

BARBOSA, Ricardo. Identidade perdida. Curitiba: Editora Encontro, 2014.

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