O PESO DAS PREOCUPAÇÕES: COMO A INQUIETAÇÃO POTENCIALIZA O SOFRIMENTO

“Permanecer estável é se abster de tentar se separar de uma dor por saber que é impossível” (WATTS, 2017, p. 101).

Alan Watts

O sofrimento é inevitável, mais dia ou menos dia, precisaremos lidar com alguma dor, e descobriremos que nem sempre existe anestesia. Com isso, a cabeça fria e o autocontrole são necessários para podermos agir com a mente tranquila. A questão é que, nestas horas, quase sempre isso não é possível. Sofremos muito mais quando tentamos fugir da dor, sendo que assim duplicamos o que já é bem complicado.

Quando não aceitamos, passamos a quantificar a dor e colocá-la em patamares ainda mais altos. E sofremos ainda mais por conta deste posicionamento. O esforço em não aceitar o que está acontecendo ou de negar a dor produz ainda mais aflição.

A dor é inevitável, quem a sente é porque está bem vivo, a dor faz parte da vida de todos os seres humanos, seja a pessoa que for, por isso, entendê-la e aceitá-la é fundamental. Não me refiro a sermos apáticos ou amantes da dor e sim, entendemos que é preciso aceitar o que não tem solução, para que, assim, consigamos prosseguir.

Gastamos muito das nossas forças nos preocupando com o que não tem saída, e isso faz com que a dor e o sofrimento multipliquem, aumentamos ela por estarmos gastando a nossa energia da forma errada. Aceitar e aprender a continuar é melhor do que parar, e ficar lamentando e sofrendo ainda mais. Quem aceita sossega, mergulha na dor e a esgota. Quem entende que sofrer é inevitável, arranja uma forma de continuar a caminhada.

Há muitos anos tive um problema bem grave de saúde, ele me pegou desprevenido. Na urgência do problema, precisei me preparar para uma cirurgia, visto que, quanto mais o tempo passava, mais a enfermidade poderia piorar.

É claro que fiquei com um baita medo, as sequelas da cirurgia não eram legais, mas não fazer nada era ainda pior. Diante desse cenário, precisei esfriar a cabeça para controlar o mostro que o problema de saúde havia se tornado. No entanto, com este posicionamento, a criatura diminuiu, sendo que, por fim, toda a cirurgia correu bem e eu não fiquei com sequelas.

Perceba que, em meio a um cenário incerto, eu estava criando muito mais problemas do que soluções. O diagnóstico e os possíveis resultados da cirurgia me levaram a construir um gigante que não era real. Tudo mudou quando eu aceitei, entreguei a situação nas mãos de Deus e segui para a cirurgia. Decidi encarar o processo com tranquilidade e aceitar os resultados. Desta hora em diante, já com a mente um pouco mais tranquila, pude raciocinar com calma e aguardar os resultados, que terminaram por ser bons. Veja como eu estava prestes a construir problemas e gerar preocupações que nem existiam.

A dor para ser controlada precisa ser aceita, é preciso bater de frente contra o inevitável, contra aquelas questões que não podem ser mudadas e que nos fazem perder tempo e gastar energia de forma errada. Mas quando aceitamos e entregamos o nosso problema a Deus, ela diminui, até percebermos que uma parte do problema era apenas a forma como estávamos percebendo a situação.

BIBLIOGRAFIA

WATTS, Alan. A sabedoria da insegurança. São Paulo: Alaúde Editorial, 2017.

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