O DEUS QUE O SER HUMANO CONSTRUIU

A Bíblia existe para nos dar um norte, ela é a nossa bússola, o manual que nos orienta e nos guia rumo ao centro da vontade de Deus. Como não é possível encontrar Deus sem que ele se revele, ele se revelou e nos deixou a sua palavra para que o seguíssemos. Mas convenhamos, não é incomum encontramos pessoas que insistem em interpretar a Bíblia de forma equivocada e construir um deus, que é bem o oposto ao que está revelado em sua palavra.

Um espiritualista chamado Joseph Murphy, sendo ele um autor que eu já vi muitos cristãos seguirem os seus ensinos, afirma em seu livro O poder da oração, que:

“Deus é para você aquilo que você quer que ele seja” (1958, p. 1).

Ou seja, Deus é uma interpretação, uma conclusão montada ao bel prazer do ser humano. Perceba como o próprio conceito de divindade é aviltado diante de tal afirmação. Imagine um Deus que parte da concepção de seres humanos falhos e finitos?

Mariones ao explicar a metafísica das criaturas e de Deus, segundo Santo Agostinho, afirma que em meio a diversidade de seres que existem, Deus é um ente ilimitado. Alguns afirmam que alguns seres criados, possuem perfeições; contudo, Deus é a definição de perfeição. Todos os seres criados são e não foram. Já Deus é para todo o sempre (2022, p. 87). Em sua obra A trindade, Agostinho complementa a definição de Deus, explicando que:

“Deus é, sem dúvida, uma substância ou (se o termo for mais adequado) uma essência, a qual os gregos denominam “ousia” […]. Outras substâncias ou essências admitem acidentes, causas de pequenas e grandes mudanças. Deus, porém, não é susceptível de acidentes, e por isso, nele existe unicamente uma substância ou essência imutável” (2020, p. 193).

Deus é, ele não muda, enquanto nós, seres humanos criados, além de termos tido um início, também mudamos. Sendo assim, acreditar que Deus pode ser o que nós decidirmos que ele seja, como Joseph Murphy afirmou, é uma afirmação incoerente, além de arrogante. Este conceito transforma Deus em uma criatura como nós, mera marionete nas mãos do finito ser humano. Gosto da crítica que Santo Agostinho faz a nós, seres humanos, neste mesmo livro:

“Pois, com que ato de inteligência quer o homem entender a Deus se ele nem mesmo é capaz de entender a própria inteligência com a qual pretende entender a Deus?” (2020, p. 192).

É fácil nos posicionarmos como arrogantes e acreditarmos ter o controle de tudo, sem percebermos todas as nossas falibilidades. Erramos ao não percebermos o tamanho da nossa limitação. Apocalipse diz:

“Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que é, que era e que há de vir” (Apocalipse 1:8) (NTLH).

O alfa é a primeira letra do alfabeto grego e o ômega é a última, sendo que, tal frase demonstra como o nosso Pai Eterno não foi criado e muito menos pode ser moldado pelas definições humanas. Deus é e sempre foi, não teve um início e nunca terá um fim, este é o nosso Deus.

E servir um Deus assim nos dá uma certeza de que só ele já basta, que só o seu cuidado já nos sustenta e nos dá segurança para caminharmos neste mundo incerto. Seguir um deus que é fruto da concepção finita do ser humano é servir a uma divindade que certamente falhará, não tenha dúvida.

BIBLIOGRAFIA

AGOSTINHO, Santo. A trindade. 1. ed. São Paulo: Paulus, 2020.

MARIONES, Francisco. Teologia de Santo Agostinho. 1. ed. Sal Paulo: Paulus; São Paulo: Academia Cristã, 2022.

MURPHY, Joseph. O poder da oração. Rio de Janeiro: Editora Record, 1958.

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