Estudei em uma escola que incentivava os alunos a ler. Toda a semana tínhamos a oportunidade de levar um livro para casa e mergulhar em um novo universo. Desde então, por conta deste simples gesto de incentivo e pelo hábito que alguns membros da minha família tinham de ler, fui capturado pela leitura.
Viajar através da leitura é, no meu ponto de vista, uma das melhores viagens que alguém pode empreender. Mergulhar na história, conhecer a fundo um tema ou mesmo se divertir com um livro bem escrito, são algumas das sensações que a leitura pode promover. A questão é que a tecnologia e os constantes estímulos mudaram e seguem mudando a rotina de estudos e leitura de muitas pessoas em nossa sociedade hiperconectada.
Maryanne Wolf, em seu livro O cérebro no mundo digital, discorre sobre o papel da leitura profunda na vida dos leitores e mostra como a tecnologia, quando usada de forma errada, pode prejudicar o processo de leitura.
Em primeiro lugar, é importante pontuar que os seres humanos não foram criados para ler. A obtenção do letramento foi uma das grandes realizações que o ser humano já fez. A prática da leitura acrescentou ao cérebro um circuito totalmente novo, tudo devido à invenção da escrita e leitura (WOLF, 2019, p. 9).
Em segundo lugar, por conta dos avanços tecnológicos, a leitura profunda tem sido prejudicada. Poucos hoje, segundo a autora, conseguem colocar em prática este tipo de leitura por conta dos constantes estímulos tecnológicos. Maryanne Wolf acrescenta:
“Basta você olhar para si próprio. Provavelmente, você já percebeu como a qualidade da atenção mudou à medida que lê mais e mais em telas e recursos digitais” (2019, p. 10).
Wolf explica que a leitura profunda é capaz de fazer com que criemos imagens durante a nossa leitura a partir de todos os detalhes sensoriais propostos pelo autor da obra. No final, nos transportamos ao mundo do livro e ao universo apresentado pelo escritor, através da nossa imaginação (WOLF, 2019, p. 55).
E a leitura digital, segundo ela, acaba por modificar os conjuntos de circuitos que desenvolvemos no cérebro. Como exemplo, a autora discorre sobre a nossa qualidade de atenção, mostrando o quanto ela está afetada (WOLF, 2019, p. 98).
Os estímulos constantes e imediatos, as notificações incessantes dos aplicativos de comunicação e de Redes Sociais, nos faz termos apenas estímulos imediatos. Já para praticarmos a leitura com qualidade e uma leitura profunda, é imprescindível nos concentrarmos, sem a distração que tais notificações promovem.
Sobre os importantes princípios da concentração, Bastos e Keller pontuam que comumente a atenção se fixa apenas em um determinado ponto, sendo possível, em alguns casos, a atenção se fixar em dois objetos, contudo, neste caso, perde-se muito da eficiência da concentração, como, por exemplo, quando alguém estuda ouvindo música (2014, p. 25). Por isso, é fundamental eliminar distrações e estímulos, para que a atenção não seja prejudicada.
A intenção do texto não é excluir os importantes avanços tecnológicos que temos hoje e sim, expor algumas ferramentas para que a leitura profunda não se perca. É claro que a tecnologia nos trouxe mais acesso a informações e a oportunidade de compartilharmos e produzirmos conteúdos, mas saber colocar limites, é um ponto fundamental para que a nossa capacidade de ler com qualidade não seja afetada.
A longo prazo, estes estímulos constantes podem provocar mudanças em nossa capacidade de leitura, prejudicando a concentração e a assimilação de forma assertiva de um conteúdo. Por isso que, em primeiro lugar, aprenda a parar e desligar todas as distrações na hora de ler e estudar. James Sire acrescenta pontuando que:
“Aqui precisamos somente observar que os melhores e mais saudáveis pensamentos frequentemente surgem quando a mente está relaxada; não tentando pensar, mas simplesmente prestando atenção ou refletindo […]” (2021, p. 95).
Construa um momento só seu, onde a leitura ou o estudo seja uma prioridade. Em segundo lugar, estabeleça um horário para que o cultivo da leitura com qualidade, possa ser praticada todos os dias. Este é um ponto fundamental, ter o tempo de leitura e estudo é uma meta importante, sendo que não precisa ser tanto tempo assim, contanto que seja diário e com constância.
Ler é fundamental, por isso que, estar atento a nossa qualidade de leitura é também, de forma indireta, uma forma de cultivar a imaginação, o conhecimento e a saúde, visto que ler nos traz inúmeros benefícios. Lembrando que somos cristãos, ou seja, temos como centro a Bíblia sagrada, a palavra de Deus, com isso, ler e estudar bem tal texto, é o princípio para termos uma vida equilibrada.
Por isso, aprenda a colocar limites na tecnologia, descubra formas de usá-la e não permita que ela te use!
BIBLIOGRAFIA
BASTOS, Cleverson.; KELLER, Vicente. Aprendendo a aprender: Introdução à metodologia científica. 28. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2014.
SIRE, J. W. Hábitos da mente: A vida intelectual como um chamado cristão. São Paulo: Vida NOVA, 2021.
WOLF, Maryanna. O cérebro no mundo digital: os desafios da leitura na nossa era. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2019.
