CRISTO E A LEI

Ó gálatas insensatos! Quem os enfeitiçou? Não foi diante dos seus olhos que Jesus Cristo foi exposto como crucificado? Gostaria de saber apenas uma coisa: foi pela prática da lei que vocês receberam o Espírito, ou pela fé naquilo que ouviram? (Referência: Gálatas 3:1-14) (NVI).

Alguns costumes cristãos fascinam, a própria mistura que algumas igrejas fazem da teologia cristã, com elementos judaicos, são atrativos e evidencia justamente isso, já que a cultura judaica é legal e muito rica. O problema apenas é que a junção de judaísmo e cristianismo não é correta, como estamos vendo nesta série da Epístola de Paulo aos Gálatas.

Os cristãos dos nossos dias insistem em seguir ritos e símbolos judaicos, isso é visível em muitas igrejas. E neste texto, o apóstolo Paulo discorre justamente sobre isso. Ele fala sobre a fé em Jesus e a lei, mostrando o equívoco que os cristãos cometem em seguir a lei.

O capítulo três da Epístola aos Gálatas se inicia com uma pergunta e a palavra fascinar aparece em algumas traduções, sendo que em outras o termo usado é enfeitiçar. Tais palavras, a meu ver, resumem um dos problemas destas igrejas sionistas. Elas foram fascinadas por conceitos que não são corretos, o coração destas pessoas foi seduzido por ensinos equivocados. A caminhada cristã precisa partir dos reais fundamentos bíblicos e não de costumes e ritos vazios.

Neste texto o apóstolo Paulo busca explicar a dinâmica da lei e da fé em Jesus, para demonstrar como obedecer à lei não é uma ação correta. Ele começa falando da morte de Cristo na cruz e como o seu sacrifício foi importante e ele exorta a igreja perguntando se eles não estavam enfeitiçados por estes falsos ensinos (v. 1). E ao olharmos para algumas igrejas a sensação é realmente esta, parece que alguns cristãos foram enfeitiçados pelos ritos e símbolos judaicos.

Mas o apóstolo continua explicando como o cristão recebeu o Espírito Santo não por seguir a lei e sim, por acreditar na mensagem (v. 2). Aquela igreja havia aceitado Jesus através do Espírito Santo, mas depois insistiram em seguir a sua caminhada cristã por meio da lei e de suas próprias forças (v. 3). O evangelho segue justamente na contramão deste fato, somos salvos pela graça, não temos qualquer participação na dinâmica da nossa salvação. Se não fosse a graça e o amor de Deus, estaríamos perdidos. Lamentações enfatiza justamente isso.

“Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis” (Lamentações 3:22) (NVI).

O ponto de partida é sempre de Deus e a lei dá a entender justamente o contrário. Se eu obedeço e sigo a lei, colho alguns frutos por meus próprios méritos e este é o equívoco que Paulo quer demonstrar à igreja e, para isso, ele revisita a história de Abraão, ao afirmar como ele creu em Deus e, por conta disso, foi aceito (v. 6), conforme Gênesis 15:6. Desde o começo, a graça já estava presente, visto que, por nossas forças, nós não conseguimos coisa alguma. Moisés Silva explica de um modo mais detalhado esta questão:

“A citação de Gênesis 15:6 se torna um fator-chave para Paulo, e ele vai usar esse texto de novo em Romanos 4, em que ele amplia o significado de Abraão. O ponto é simples: Se Deus creditou justiça a Abraão porque ele creu, então certamente os verdadeiros filhos de Abraão são aqueles que creem como ele creu” (cf. Rm 4.11, 12). Além disso, Paulo cita mais uma afirmação de Gênesis que focaliza no significado da vida de Abraão para os gentios: Em ti, serão abençoados todos os povos (Gn 18.18; 22.18; cf. Gn 12.3; 26.4; 28.4). É como se o evangelho da liberdade estivesse sendo pregado muito tempo antes da vinda de Cristo (SILVA, 2012, p. 1824-1825).

Constate como a palavra da verdade já estava sendo pregada há muito tempo. E a figura de Abraão é importante, justamente porque a Bíblia diz que através dele muitos povos seriam abençoados (Gn 18.18; 22.18).

Ao citar o exemplo de Abraão justamente neste assunto sobre salvação, ele assim o faz não como um exemplo aleatório. A salvação oferecida por Deus precisa passar por Abraão, não é à toa que ele é citado 73 vezes na Bíblia (POHL, 1999, p. 104). Existe uma promessa feita a Abraão lá em Gênesis, por isso que ele é citado quando o assunto é justamente este.

E o apóstolo continua pontuando que os verdadeiros descendentes de Abraão são aqueles que têm fé (v. 7), aqueles que não são judeus são aceitos justamente por meio da fé em Cristo (v. 8). E Paulo novamente enfatiza:

“Assim, os que são da fé são abençoados juntamente com Abraão, homem de fé” (Gálatas 3:9) (NVI).

Assim sendo, Paulo retifica a tradição judaica ao ensinar que Deus considerou Abraão justo, não pela lei, mas devido à sua fé (POHL, 1999, p. 107). O apóstolo corrige o equívoco que estava acontecendo dentro da igreja, interpretando de forma correta a tradição judaica.

Quem coloca a sua confiança na lei, certamente, está embaixo do juízo de Deus, visto que, a pessoa que não segue exatamente o que a lei manda, está debaixo da maldição Divina (v. 10). Lembrando que são 613 mandamentos da lei judaica, por conta disso, torna-se praticamente impossível alguém seguir exatamente todos os pontos desta lei.

Somos salvos pela fé em Cristo, visto que, ser humano algum tem a capacidade de se salvar, mesmo o mais motivado, não consegue por seus próprios méritos obter salvação. E o apóstolo Paulo novamente enfatiza:

“É evidente que diante de Deus ninguém é justificado pela lei, pois “o justo viverá pela fé”” (Gálatas 3:11) (NVI).

Somos salvos pela fé em Jesus, se não fosse a graça divina, certamente estaríamos perdidos. A salvação é fruto da ação de Deus e não nossa e é justamente isso que Paulo quer ensinar a uma igreja que insistia em seguir a lei.

A lei tem a sua utilidade, como vamos ver em outro texto, contudo, a salvação é fruto da graça de Deus. Se Jesus Cristo não tivesse morrido por nós, estaríamos perdidos, tentando, sem sucesso, seguir as orientações da lei.

“Cristo nos redimiu da maldição da lei quando se tornou maldição em nosso lugar, pois está escrito: “Maldito todo aquele que for pendurado num madeiro”. Isso para que em Cristo Jesus a bênção de Abraão chegasse também aos gentios, para que recebêssemos a promessa do Espírito mediante a fé” (Gálatas 3:13,14) (NVI).

BIBLIOGRAFIA

CARSON. DA.; FRANCE, RT.; MOTYER, J. A.; WENHAM, G. J. Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo, Editora Vida Nova, 2012.

POHL, Adolf. Carta aos Gálatas: Comentário Esperança. Curitiba: Editora Esperança, 1999.

SILVA, Moisés. In: CARSON. DA.; FRANCE, RT.; MOTYER, J. A.; WENHAM, G. J. Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo, Editora Vida Nova, 2012.

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