DIVINO RESGATE

Quando não conhecemos a Bíblia ou não buscamos sempre consultar a palavra de Deus ao ouvirmos uma mensagem, corremos o risco de virarmos reféns de ensinos que não são bíblicos. É fácil, justamente pela falta de conhecimento, acreditar que alguns sermões são bíblicos. Sendo que hoje, este perigo é ainda maior, visto que, estamos muito mais expostos a vídeos, pregações e palestras. Conhecer a palavra de Deus e as bases da fé, é ter a certeza de que você não cairá em ciladas, por conta dos seus fundamentos.

É comum vermos ensinos equivocados propagados como verdades. Um destes ensinos eu tenho visto muito nas redes sociais, mas já li em alguns livros cristãos também, que se resume em: “Deus não amaria algo que não tivesse algum valor, se Deus nos ama é porque eu tenho atributos específicos que merecem tal amor”. Se Deus me ama, diz tal conceito, é porque eu tenho algo de especial. Cristo não morreria por indivíduos que não valem nada, segundo estes. Um conceito que carece um pouco de reflexão.

O amor de Deus por nós, não é fruto de algo especial que qualquer um tenha. Quando Deus nos ama e decide morrer por amor, a motivação é a sua santa misericórdia e não nós e algo especial que o ser humano tenha. O poder de Deus e o evangelho nos faz filhos amados, mas o seu sacrifício não é oriundo de algo que temos de bom.

Diminuímos o que Deus fez na cruz quando acrescentamos qualquer possibilidade, mérito ou valor a sua ação. Somos salvos por conta da poderosa graça de Deus. O mérito, o amor e a misericórdia, parte sempre dele e não de algo que temos. Ele olha para nós, seres humanos pecadores e decide nos transformar, mudar a nossa realidade e nos salvar. John Stott acrescenta algo fundamental:

“O cristianismo é uma religião de resgate” (2018, p. 17).

Nós fomos resgatados por um Deus que teve misericórdia, não porque temos valor e sim, porque ele é amor. O mérito é sempre dele e não nosso. Acreditar que temos algum valor, justamente porque Deus morreu por nós, é acreditar que nós o motivamos.

Quando alguém é salvo por qualquer mérito ou valor que seja, a pessoa já não é salva mais pela graça. A graça pressupõe justamente que não merecemos, que não temos qualquer mérito, mas Deus decide nos salvar, pois ele é santo e misericordioso. O apóstolo Paulo em Efésios diz:

“Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2:8-9) (NVI).

Nós somos salvos pela graça, não por mérito e muito menos obras, justamente para não nos gloriarmos, para não acreditarmos sermos merecedores de tal sacrifício. Hahn e Boor explicam que:

“Tudo o que o ser humano visa realizar “a partir de si” para a sua salvação é “obra”, e por isso insuficiente. A graça de Deus exclui o sinergismo humano, porque somente assim é e continua sendo cabalmente graça (2006, p. 46-47).

Deus nos salvou e nos fez especiais, amados e filhos, não porque merecemos, mas justamente porque ele é bom. Tudo o que temos é dádiva de Deus e fruto de sua graça.

Eu gosto de esculturas, é legal ver como um artista consegue pegar uma pedra bruta e transformar em algo belo e com muito valor. Quando eu observo as imagens da escultura chamada de Davi, de Michelangelo, eu fico abismado com todos os detalhes e em como o artista conseguiu pegar uma pedra sem valor algum e transformar em algo majestosamente e belo. Assim somos nós, Deus pegou uma pedra bruta, sem valor algum e através da graça nos transformou, não foi por mérito nosso e sim, por conta da sua soberana misericórdia e poder.

A grandeza da morte de Cristo na cruz se dá justamente porque ser humano algum merece tal ato, mas mesmo assim, ele morreu por nós e nos chamou de filhos. Por isso, não diminua a graça de Deus acreditando que você tem algum mérito.

BIBLIOGRAFIA

HAHN, Eberhard.; BOOR, Werner.Carta aos Efésios, Filipenses e Colossenses: Comentário Esperança. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2006.

STOTT, John. Lendo Gálatas com John Stott. Viçosa: Ultimato, 2018.

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