Na maioria das narrativas militantes, o culpado é sempre o outro. O opressor é quem discorda ou tenta dialogar. Não existe outro ponto de vista, apenas um e todos precisam aceitar. O errado, neste ambiente, nunca é quem milita. É justamente por este motivo que tenho algumas reservas com militantes. Onde não há diálogo, não vale apena estar.
Madeleine Lacsko no livro Cancelando o cancelamento, aborda o que ela chama de Identidarismo, como ferramenta desta militância que quer impor e combater aqueles que discordam das suas visões.
Existem pautas identitárias que são genuínas, como o racismo, por exemplo, que é um tema importante e precisa ser debatido. Entretanto, o identitarismo, que é um neologismo criado pela autora, descreve as pessoas que usam tais temas genuínos para militar, impor e vender virtudes. Madeleine Lacsko complementa:
“Ignorar a objetividade, racionalidade e realidade é uma característica intrínseca do identitarismo. Chega a ser irônico e tem consequências práticas que se proponha como combate à opressão, exatamente as mesmas práticas dos opressores (2023, p. 28).
Eles combatem um inimigo, forjando narrativas e perseguindo certas pessoas de uma forma muito violenta. É claro que eles ou os seus aliados podem ser violentos e agredir pessoas mais fracas, desde que estes estejam do seu lado, é claro. Há justificativa para a violência e a agressão. A violência que estas pessoas praticam, é permitida, já que faz parte da agenda deles. É a violência do outro que não pode ser aceita. Sendo tal atitude muito contraditória e arrogante.
Perceba como existem temas verdadeiros em suas pautas, mas são usados de uma forma errada, apenas como ferramenta para manipular uma massa em nome de um interesse pessoal.
Eu já encontrei muitos destes que acreditam que existe um lugar de fala. E se não estamos inseridos no contexto, não temos permissão de discorrer sobre um assunto. Ou se alguém usa algo que não é da sua cultura, ele é execrado por estes militantes, por estar se apropriando de algo que não é dele.
Não há diálogo neste contexto, sendo que as pessoas que coordenam estes movimentos, não fazem parte de grupos minoritários e muito menos são pessoas que realmente buscam soluções, ao contrário, a maioria é da elite, que busca apenas atenção. São militantes que usam temas reais, para combater um suposto inimigo. O problema é que a maioria quer apenas pagar de bons moços, poucos querem resolver o problema.
Aprendi a observar bem o que uma pessoa diz e também a verificar suas atitudes perante a opinião oposta, por isso que, com o tempo, entendi que muitos não querem ouvir e muito menos dialogar. É por isso que eu não perco tempo com estes.
Ou dialogamos e construímos saídas para tais problemas, ou seguiremos para um embate sem fim. Aprenda a diferenciar quem milita em nome de uma causa, sem espaço para qualquer diálogo, daqueles que se unem para propor uma solução para um problema.
Há uma narrativa construída para impor um ponto de vista, existe uma ação para calar as pessoas e tomar o poder. Por isso, tome cuidado com as narrativas militantes, que usam princípios genuínos, mas que possuem fins escusos.
BIBLIOGRAFIA
LACSKO, Madeleine. Cancelando o cancelamento: Como o identitarismo da militância tabajara ameaça a democracia. São Paulo: LVM Editora, 2023.
