O tique-taque dos relógios antigos era uma espécie de música, que em seu compassado ritmo, anunciava que o tempo estava passando. Era a música do tempo e esta música nos levava a olhar para o relógio.
A parte interessante sobre o tempo é que, quando somos novos, não ligamos muito para ele e o deixamos passar sem qualquer medida ou peso na consciência, mas conforme ficamos mais velhos, vamos mudando a nossa forma de pensar.
Depois de uma idade, não é difícil olharmos para trás e percebermos quanto tempo se passou. O surreal é que, depois de um tempo, parece que os dias não passam e sim, escorrem pelas mãos. Abraham Joshua Heschel descreve o tempo como um sarcástico e astuto monstro. Heschel explica que:
“O tempo para nós é sarcasmo, um astuto monstro traiçoeiro com uma mandíbula como uma fornalha, incinerando cada momento de nossas vidas” (2014, p. 12).
No final, este monstro do tempo só revela a nossa fragilidade perante os dias, que se findam sem demora. Não controlamos tudo e o tempo revela justamente isso. É fácil nos apegarmos às coisas, mas tal apego só revela a nossa falibilidade, de quem não controla minuto algum dos seus dias. Ao contrário de Deus.
Gosto quando a Bíblia descreve Deus como eterno (Jeremias 10:10; Isaías 57:15; Salmos 90:2; Romanos 6:23), visto que a eternidade revela o tamanho do seu poder. Alguns cristãos ficam impressionados com as ruas de ouro que a Bíblia descreve quando fala do céu (Apocalipse 21:21), mas a eternidade de Deus é o que me deixa mais estupefato. Deus é um ser que está fora do tempo, isso é muito impressionante.
Agostinho de Hipona, na obra Confissões, trabalha justamente a questão de tempo e eternidade, argumentando como Deus, por ser imortal, está fora do tempo e nunca muda. E sobre Deus, no livro XII das Confissões ele afirma que:
“Já me disseste, Senhor, com voz forte no meu íntimo, que és eterno, o único a possuir a imortalidade, pois nunca mudas nem de forma nem de movimento, e tua vontade não varia conforme o tempo, pois uma vontade mutável não pode ser imortal” (2016, p. 372).
Por ser imortal, argumenta Agostinho, ele não muda, sendo que a sua vontade também não varia, já que Deus é imortal. Tal observação, a meu ver, resume um pouco da soberania de Deus. Paulo também faz uma observação interessante quando diz que:
“Ele é o bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, o único que é imortal e habita em luz inacessível, a quem ninguém viu nem pode ver. A ele sejam honra e poder para sempre. Amém (1 Timóteo 6:15-16) (NVI).
Este é o nosso Deus, um ser eterno e imutável, bem diferente do que nós, seres humanos falíveis, somos. Eu acho difícil não me impressionar com tal verdade, em um mundo onde o tempo é o nosso inimigo.
Deus é o senhor do tempo. Enquanto para nós o tempo é um inimigo, para Deus os dias apenas são. Não há variação ou mudança, ele vive em um eterno agora, desde sempre até a eternidade.
O céu, as maravilhas da criação e tudo o que Deus fez e fará, no vindouro céu, não é nem próximo do que o próprio Deus é, sendo que esta é uma das maravilhosas riquezas do futuro, estar perto de um Deus que eternamente é, sem sombra de variação alguma.
E quando enfim estivermos ao lado de Deus, o tempo será mera lembrança!
BIBLIOGRAFIA
AGOSTINHO, Santo. Confissões. São Paulo: Paulus, 2016.
HESCHEL, Abraham Joshua. O schabat: seu significado para o homem moderno. São Paulo: Perspectiva, 2014.
