É comum ouvirmos que algumas igrejas são mais “frias” do que outras por conta da sua dinâmica de culto. Sendo que os cristãos também passam pela mesma avaliação. Existem aqueles vistos como frios e os avivados. E tais cristãos avivados normalmente são aqueles que sempre têm aquelas explosões emocionais, como se isso fosse realmente a melhor definição do termo.
A fé e o arrependimento, por exemplo, não são explosões emocionais que precisam acontecer em determinada hora do culto, mas é uma prática diária, que deve fazer parte da vida de todos os cristãos. É como respirar, deve ser constante e habitual, tais condutas devem estar introjetadas em nossas vidas. Tish Warren comenta que:
“Para alguns de nós, a ideia de arrependimento pode trazer à mente uma certa experiência emocional ou músicas emotivas num apelo de cultos avivalistas. Mas o arrependimento e a fé são ritmos constantes e diários da vida cristã, como expirar e inspirar” (2021, p. 80).
A vida cristã é uma prática, um estilo de vida que possui fundamentos e não uma caminhada de emoções e explosões emocionais. Nem sempre estaremos motivados e alegres, mas precisamos manter o ritmo constante na busca por Deus e o estudo da sua palavra.
Mais do que emoção, precisamos ter fundamentos e perceber como uma boa teologia gera no cristão uma vida coerente e fundamentada. Costumamos colocar a teologia em outros patamares, como se ela fosse útil apenas em alguns casos especiais. Contudo, ela nos faz termos uma boa e centrada caminhada cristã.
Gosto de alguns problemas filosóficos e teológicos, eles nos mostram como alguns assuntos são complexos, mas também úteis para a reflexão. Sendo que muitos destes problemas são aplicáveis à vida cristã, basta refletirmos um pouco. O problema do mal, segundo Agostinho de Hipona, por exemplo, é um bom exemplo disso.
O mal para ele é fruto do livre-arbítrio humano, das escolhas que todos os seres humanos fazem partindo da sua vontade. Só neste ponto já podemos entender como os seres humanos possuem responsabilidades morais em suas ações. Mas Agostinho continua, ele diz que o mal não existe ontologicamente, ele é uma espécie de ferrugem no bem, que surge quando o ser humano se afasta de Deus. Perceba como não precisamos ser filósofos para entendermos como é fácil o ser humano se afastar de Deus. Principalmente quando ele segue a sua vontade, sem refletir e meditar. O mal tem o seu início quanto nos afastamos de Deus, o Sumo Bem.
Conheço muitos que frequentam cultos todos os dias, mas estão bem distantes de Deus, justamente porque seguem ensinos ou costumes que não são oriundos da Bíblia. É fácil irmos à igreja todos os domingos e seguirmos a nossa semana afastados de Deus, nos esquecendo das questões práticas do cristianismo. E este afastamento é o princípio do mal.
É no ordinário que erramos muitas vezes, é no dia a dia que colocamos de lado pontos essenciais da espiritualidade cristã. E a fé é um bom exemplo disso. Ter fé não é ter explosões emocionais, ao contrário, é uma prática diária fundamentada na palavra.
É fácil nos separarmos de Deus, principalmente quando acreditamos que a nossa atitude está certa. No entanto, a nossa crença e ação precisam ser fruto da palavra de Deus, caso contrário, seguiremos nos distanciando cada vez mais da vontade do nosso soberano Pai.
A vida cristã é simples, nós é que complicamos ao optar seguirmos as nossas debilitadas opiniões!
BIBLIOGRAFIA
WARREN, Tish H. Liturgia do ordinário. São Paulo: Pilgrim Serviços e Aplicações; Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2021.
