Quando somos tocados por Deus e atendemos ao seu chamado, nós nos convertemos e mudamos de vida. O problema é que alguns não somente mudam de vida, mas também passam a viver longe do seu antigo ambiente. O convertido, em alguns casos, se afasta dos amigos, familiares e de quem muitas vezes o ama muito, tudo porque ele agora é cristão e precisa ficar distante do “mundo” e das suas práticas pecaminosas.
A vida cristã é prática, ela não acontece apenas no âmbito espiritual e muito menos, somente entre as quatro paredes da igreja. A santidade é um estilo de vida, que não nos tira do mundo, ao contrário, nos faz atuantes e nos capacita a viver um cristianismo coerente, para, desta forma, fazermos diferença na vida das pessoas. William Penn complementa explicando que:
“A verdadeira santidade não tira os homens do mundo, mas capacita-os a viver melhor nele e incita os empreendimentos que ajudam a restaurá-lo” (apud FOSTER, 2007, p. 53).
O cristianismo não se resume em viver apenas na igreja e também não é se separar do mundo, ao contrário, é ser diferença, é seguir sendo cartas vivas do evangelho (2 Coríntios 3:2-3). A Bíblia diz para sermos sal e luz no mundo (Mateus 5: 13–14), mas para isso precisamos estar no mundo, fazendo diferença na vida das pessoas, dos amigos e familiares. O apóstolo Paulo fala justamente disso quando diz que:
“Vocês demonstram que são uma carta de Cristo, resultado do nosso ministério, escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de corações humanos” (2 Coríntios 3:3) (NVI).
Neste capítulo, Paulo responde a algumas críticas que ele recebeu por não ter cartas de recomendação para apresentar aquela comunidade (2 Coríntios 3:1). É provável que alguns falsos apóstolos de Corinto tenham levantado estas acusações. Contudo, Paulo informa que as cartas de recomendações não são necessárias, visto que a igreja que existia na cidade era uma prova do seu trabalho. A igreja é esta carta, que aponta para Deus e evidencia a verdade do evangelho. A mudança de vida é a prova da verdade que restaura vidas (KRUSE, 2012, p. 1796).
Entendo que precisamos nos afastar de alguns contextos que nos influenciam negativamente, principalmente quando temos algumas dificuldades em algumas áreas. Precisamos ser sábios e estar realmente curados, para conseguirmos entrar em algumas realidades que muitas vezes nos tocam, visto que cada indivíduo tem o seu desafio. Entretanto, salvo nestes casos, nós não podemos nos afastar do mundo e sim, se aproximar destas realidades, anunciando o evangelho que mudou a nossa vida.
A nossa missão é anunciar o evangelho e fazer de tudo para que o amor de Deus alcance as pessoas. E isso não é possível, se ficarmos trancados no prédio da igreja. Precisamos atuar e cuidar das pessoas. É assim que o evangelho entra no coração das pessoas.
O cristão precisa fugir dos guetos cristãos, daquelas igrejas que insistem em seguir separando os seguidores de Cristo do mundo. Ou transbordamos o evangelho na vida das pessoas, através da nossa vida e ações, ou seguiremos distantes da vida cristã prática.
A verdadeira santidade não nos separa do mundo, mas nos aproxima, nos convida a sermos cartas vivas, a sermos mensageiros da verdade que liberta. O sal fora do saleiro faz muita diferença, e isso só pode ser feito fora da igreja, em nosso cotidiano e em meio aos nossos amigos.
Bibliografia
CARSON. D. A.; FRANCE, R.T.; MOTYER, J. A.; WENHAM, G. J. Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Editora Vida Nova, 2012.
FOSTER, Richard. Celebração da disciplina: O caminho do crescimento espiritual. São Paulo: Editora Vida, 2007.
KRUSE, Colin G. 2 Coríntios. In: CARSON. D. A.; FRANCE, R.T.; MOTYER, J. A.; WENHAM, G. J. Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Editora Vida Nova, 2012.
