MENTALIDADE REVOLUCIONÁRIA

Fui adepto da filosofia anarquista quando era jovem, por acreditar que o mundo estava todo errado e que era preciso nos unirmos para mudarmos a sociedade e brigarmos por mais liberdade. Todos estavam equivocados e não percebiam isso, só nós e quem concordava conosco, eram os que estavam certos e aptos para fazer mudanças. O governo era opressor, mas militávamos pela liberdade.

Percebam o perigo da mentalidade militante, o cerne do pensamento é crer que somente um lado está certo e o outro não. Que a sociedade não está percebendo seus erros e contradições, somente eles. Este princípio impede o diálogo e a construção de soluções, que normalmente são complexas. É claro que tanto um lado quanto o outro podem estar errados, por isso que o diálogo é importante. Problemas sociais são complexos por natureza, para resolvê-los é essencial muita discussão e troca de experiências. 

Olavo de Carvalho fala da mentalidade revolucionária e foi inevitável lembrar deste meu passado anarquista, quando ele fez a sua exposição. Ele explica que a mentalidade revolucionária é um evento histórico, possível de ser verificado e estudado através dos documentos e fatos que os mais de cinco séculos disponibilizaram para nós. Sendo que é muito mais um princípio mental e psicológico do que político. É uma maneira de pensar e um estado de espírito de indivíduos que creem que são aptos a corrigir a sociedade ou mesmo, a natureza humana, através de suas práticas políticas; quem tem esta mentalidade revolucionária acredita serem portadores de um futuro melhor e estão acima de qualquer julgamento (2014, p. 186–187).

Percebemos este fato quando lemos sobre a Revolução Russa de 1917, que usou o desgaste do czarismo na Rússia e toda a insatisfação política da época para implantar o seu regime, que terminou por instituir muito mais injustiças através do seu regime político. O czar Nicolau II cometeu muitos erros, contudo, os bolcheviques, que ganharam o poder após a revolução, também instauraram uma grande calamidade no país, em nome de um ideal. Olavo complementa, dando ênfase justamente neste ponto:

“Autoglorificação do super-homem, a “mentalidade revolucionária” é totalitária e genocida em si, independentemente dos conteúdos ideológicos de que se preencha em diferentes circunstâncias e ocasiões” (2014, p. 187).

Muitas injustiças foram feitas em nome do “bem” e de causas genuínas, tudo porque indivíduos creram que suas receitas consertariam o mundo. Usei como exemplo a Revolução Russa, mas é possível constatar o mesmo em outras revoluções e movimentos políticos, que insistem em impor uma forma de pensar. Sendo que o propósito do texto não é falar de um lado político e sim, de uma mentalidade, visto que, independente da ideologia ou lado, a mentalidade revolucionária é perigosa, tendo um cerne totalitarista.

Estes revolucionários não entendem que o mal e a injustiça são fatos inerentes à condição humana, impossíveis de serem extirpados, mas somente atenuados. A maioria acredita que tais problemas são frutos do capitalismo, dos ricos e dos burgueses, que é possível eliminar estes distúrbios, extirpando estas classes e desconstruindo o mal (CARVALHO, 2014, p. 191–192). Para nós cristãos, os problemas sociais e humanos são frutos do pecado na vida do homem, mas para estes revolucionários, o culpado é o capitalismo e o dinheiro. Novamente, Olavo expõe que:

“A revolução é; por sua própria natureza, totalitária e universalmente expansiva: não há aspecto da vida humana que não pretenda submeter ao seu poder, não há região do globo a que não pretenda estender os tentáculos da sua influência” (2014, p. 189).

Diante disso, o uso da força é justificado e muita barbárie é provocada em nome de “um bem”, segundo estes, e esta é justamente a contradição, visto que os fins não justificam os meios. Mal algum ou imposição alguma, em nome da causa que for, não valida a violência e a agressão.

A revolução impõe um pensamento e não dialoga, por isso que revolucionários e todas as pessoas que acreditam que possuem uma receita infalível para consertar o mundo são prejudiciais.

Ou dialogamos sobre os problemas e aprendemos a dar um passo de cada vez em direção a uma sociedade equilibrada, ou seremos prisioneiros daqueles que acreditam que possuem uma fórmula mágica!

Bibliografia

CARVALHO, Olavo de. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Rio de Janeiro: Editora Record, 2014.

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