Se olharmos para a nossa vida de uma maneira mais realista, notaremos como tudo possui um potencial de nos afastar de Deus, tanto as coisas boas quanto as ruins. É por conta disto que repito constantemente que a caminhada cristã é uma prática diária, uma constante reflexão e busca.
Não é fácil enfrentar problemas, em meio ao caos, doenças e falta, é inevitável nos perguntarmos onde Deus está nestes momentos. A dúvida é uma companheira e ela insiste em colocar incertezas em nossa fé. Em contrapartida, os momentos bons e de sucesso também nos fazem esquecer de Deus. Em dias de vitória, onde o eu é exaltado, muitos caem na armadilha de se colocarem como especiais, se esquecendo de Deus e de como Ele é o centro da nossa vida. Gosto de um texto da Epístola de Paulo a Filipenses, justamente porque ele aponta como aprendeu a viver em ambas as situações:
“Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4:11-13) (NVI).
Note como Paulo fala que aprendeu a passar tanto por períodos de necessidade quanto de fartura (v. 12), visto que ele entendeu que, em ambos os momentos, podemos nos afastar de Deus pela falta da postura correta. É fácil reclamarmos em meio aos problemas e nos afastarmos de Deus, em meio aos dias de abundância. Saber passar pelas duas situações é fundamental.
Nesta passagem, Paulo tem como prioridade agradecer aos donativos que a igreja enviou a ele e também enfatizar que depender de Deus e não da ajuda humana é um princípio espiritual fundamental. E o apóstolo é tão hábil em fazer isso, que este versículo se tornou um marco (CARSON et al., 2012,p. 1891).
A palavra contente, no grego, é “autarkes”, e significa “autossuficiência”, isto é, “contentamento”. Nesta passagem, Paulo usa uma expressão usada pelos filósofos estoicos, visto que, a “autossuficiência” é o princípio-base desta escola filosófica, é um modo de viver onde os estímulos e fatos externos não têm poder de atrapalhar a paz da pessoa (CHAMPLIN, 2014, p. 87). A grande diferença do apóstolo e destes filósofos era que a sua paz, a sua autossuficiência vinha de Cristo (v. 13), ao contrário da autossuficiência dos estoicos. É na força e no poder de Jesus que podemos passar por todas as intempéries. Francis Foulkes complementa:
“O segredo da vida de Paulo não era nada secreto, mas aberto a todos que seguissem o caminho de Cristo. Era um segredo de contentamento, visto que conhecer a Cristo e ser chamado a servi-lo eram “insondáveis riquezas” (Ef 3.8)” (CARSON et al., 2012, p. 1892).
Os desafios da vida insistem em nos derrubar e nos levar a perdermos as nossas esperanças. É fácil se desesperar e sentir que tudo está perdido e que você está abandonado. Ao mesmo tempo que não é raro vermos muitos homens se esquecerem de Deus ao viverem em meio à fartura. Mas o grande segredo que Paulo nos ensina é que o nosso contentamento precisa estar alicerçado primeiramente em Jesus. É ele que nos fortalece e é em Cristo que a nossa vida precisa estar alicerçada.
A verdadeira autossuficiência está em Jesus, Ele é o princípio da vida equilibrada. Sem Ele, certamente nos perderemos nos mares do exagero e do descontentamento que o mundo constrói.
“Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece” (Filipenses 4:13) (ACF).
Bibliografia
CARSON, D. A.; FRANCE, R. T.; MOTYER, J. A.; WENHAM, G. J. Comentário bíblico Vida Nova. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2012.
CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo: Volume 5. São Paulo: Hagnos, 2014.
FOULKES, Francis. Filipenses. In: CARSON, D. A.; FRANCE, R. T.; MOTYER, J. A.; WENHAM, G. J. Comentário bíblico Vida Nova. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2012.
