Lembro que 1986 foi marcado por um evento que chamou muito atenção do mundo inteiro. Não foi tão drástico como as inúmeras vezes em que foi declarado que o mundo iria acabar, mas lançou os olhares de bilhões de pessoas para o céu. No mês de fevereiro daquele ano o cometa Halley era facilmente visto a olho nu. Trata-se de um cometa que tem uma órbita elíptica no nosso sistema solar e só passa perto da terra a cada 75 ou 76 anos. A próxima aparição será em 2061. Lembro que nessa ocasião um grupo religioso subiu em uma montanha, todos vestidos de branco, onde esperavam serem levados pelo cometa até um planeta distante onde seria o paraíso. Quem me conhece sabe que respeito a crença pessoal das pessoas. Posso não concordar com algumas crenças, mas da mesma forma que professo minha fé nos ensinamentos de Cristo, respeito as pessoas que vivem sua espiritualidade de outra forma. Mas mesmo para mim, que respeito a opinião alheia, às vezes é difícil ficar sério diante de algumas crenças como a que relatei.
A mente humana é muito criativa e a cada dia surgem novas idéias e pensamentos, das mais simples opiniões às mais mirabolantes fantasias, que mais parecem enredo de filmes infanto-juvenis. O mais incrível é que muitas delas tem uma grande aceitação mesmo em mentes de pessoas consideradas intelectualizadas. Acredito que isso aconteça pelo fato de serem crenças e, como tal, não são passíveis de comprovações científicas ou práticas; são crenças. A própria vivência da espiritualidade é baseada em crenças. Ninguém pode explicar cientificamente sua fé. Para toda a religião ou crença, parte-se de um pressuposto de algum conceito que deve ser aceito através da fé ou da crença. Mas praticamente todas as religiões e credos têm sua lógica e normas. No Brasil, onde a diversidade cultural proporcionou uma mescla de crenças, muitos conceitos religiosos são deturpados. Pessoas que dizem seguir uma determinada religião também crêem em vários elementos de outra, que nada tem a ver com a fé professada. Esse é o famoso sincretismo religioso. Um ditado popular que tem algo a ver com isso é o que afirma que se ascende uma vela para o santo e outra para o diabo. Geralmente os cristãos protestantes brasileiros criticam de forma veemente os católicos que também participam de ritos da umbanda, candomblé e outras religiões de origem geralmente africana. Mas em que os protestantes, ou evangélicos, realmente crêem? No que eles deveriam crer?
Talvez os protestantes não crêem que um cometa os levará ao paraíso, ou que extra terrestres os abduzirão para levá-los na presença de Deus, mas é muito comum a crença em vários elementos que não fazem parte dos ensinamentos de Cristo. Parece que há algum tipo de necessidade de se pensar em algo que complete o sacrifício de Jesus na cruz; parece que o que ele fez não é suficiente. Muitas igrejas (pastores e líderes) não têm coragem de expressar isso em palavras, pois vai contra os ensinamentos bíblicos, mas acaba embutindo várias regras e crenças como princípios da fé. Isso é algo extremamente perigoso pois afasta as pessoas do verdadeiro evangelho. As cartas bíblicas, principalmente as paulinas, estão recheadas de advertências contra falsos ensinos, falsas crenças e até mesmo faltos profetas. Se isso não fosse uma realidade na igreja, não seria um dos problemas da igreja mais abordados pelo Novo Testamento. Uma das passagens bíblicas que adverte a igreja a essa realidade é 2ª Timóteo 4,3, onde lemos:
“Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos”.
Olhando para a prática de várias igrejas, parece que em poucas épocas isso faz tanto sentido como na atualidade. Se alguns crêem em cometas redentores, fadas ou gnomos, outros acreditam que uma toalha com suor do apóstolo, um copo de água em frente da TV ou do rádio, um cajado ungido, um tapete de sal grosso, ou até uma cusparada ungida do pastor, promovam um olhar mais atencioso de Deus ao fiel. Se for para crer em lendas, sinceramente prefiro a do cometa Halley.
O apóstolo Paulo escreveu uma carta à igreja de Colossos. Assim como em outras, ali o evangelho também estava sendo contaminado por ensinamentos contrários ao evangelho de Cristo. Eram ensinos gnósticos, judaizantes, animistas, legalistas e talvez outros tipos de heresias. No capítulo 2 versículos 3 e 4, Paulo diz:
“Nele (em Jesus) estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. Eu lhes digo isso para que ninguém os engane com argumentos que só parecem convincentes”.
Um pouco adiante o autor afirma que devemos enraizar e edificar nossa fé em Cristo e que não devemos ser enganados por vãs filosofias que são fundamentadas em tradições humanas e nos princípios desse mundo e não nos ensinamentos do Messias. Essa passagem bíblica é clara que Cristo nos basta. Nele estão todos, todos os tesouros dos quais precisamos. Se vivermos conforme os ensinamentos dele, nada mais é necessário para que herdemos a vida eterna e que vivamos na plenitude do Espírito. Um detalhe que chamou minha atenção, é que Paulo afirma que os falsos ensinamentos podem parecer convincentes. Mas só parecem, pois não passam de pó. Dificilmente os falsos profetas ensinam algo muito diferente do que Cristo nos ensina. Geralmente acrescentam um detalhe aqui, outro acolá e lá vai a igreja se deleitando com heresias que lhe são atrativas. Os falsos profetas pregam e ensinam aquilo que as pessoas querem ouvir. Parece que a maioria dos cristãos prefere Cristo e algo a mais do que “simplesmente” Cristo. Em outra carta, a segunda aos Coríntios, Paulo adverte as pessoas que vivem algo que ultrapasse aquilo que está escrito, mas parece que simplesmente não nos contentamos com o que Deus fez por nós.
Acredito que um dos motivos que proporciona esse fenômeno, é que muitas vezes se vive mais em função do pastor, ou seja lá de que forma a pessoa se denomine, do que do próprio Deus. É certo que precisamos de referências, de pessoas que nos inspirem e nos orientem mas isso é diferente do que seguir cegamente os ensinamentos dessas pessoas. Devemos tomar muito cuidado com pessoas que lançam os holofotes mais em si mesmo, seus ensinos ou sua teologia do que em Deus. Também cuide com pastores que não toleram ser questionados. Geralmente os falsos profetas se blindam dos questionamentos fazendo ameaças e citando supostas maldições da parte de Deus. Devemos ser cautelosos com argumentações que se baseiam em versículos isolados de seu contexto e daquelas baseadas em tradições e culturas ou experiências pessoais. Uma das características dos falsos ensinos é que geralmente se baseiam em um desses casos. Quando a figura do pastor é demasiadamente valorizada dentro da comunidade é bom que se fique de olhos abertos. O verdadeiro pastor é aquele que aponta para Cristo e seus ensinamentos. A falsa doutrina chega a um ponto tal, que, recentemente ouvi uma pregação transmitida pela rádio, onde o sujeito que diz ser pastor, chegou a afirmar que quem lê muito a Bíblia perde sua fé. Eu simplesmente não quis acreditar no que ouvi. Mas faz sentido, pois se os fiéis dessa igreja começarem a ler a Bíblica buscando Deus, logo verão a verdade e dificilmente permanecerão nessa igreja.
Um colega do autor desse blog, Guilherme, estava, juntamente com sua igreja, em uma campanha para que Deus revelasse os falsos profetas. Sabiamente o Guilherme sugeriu a forma mais segura e eficaz para se precaver dos falsos profetas e seus ensinos. Basta estudar a Bíblia. Alguns dizem que ela é “a mãe de todas as heresias”, mas com certeza ela também é a morte de todas elas. Há uma característica interessante no homem que, ao que parece, prefere ouvir ensinamentos de outras pessoas do que da própria Bíblia. Ouvir outras pessoas pode nos ajudar, mas também há o risco do ensino vir distorcido ou de não nos aprofundarmos tanto como se nós mesmos estudássemos a Bíblia. A Palavra fala mais do que pessoas. Da mesma forma que nosso aprendizado, por exemplo, em uma faculdade, será proporcional ao tempo e esforço investidos, nosso conhecimento bíblico também vai depender do nosso interesse em saber mais sobre Deus e dos estudo que realizamos na Bíblia. Mas, como falei, é muito mais cômodo construir a fé baseado simplesmente naquilo que o pastor prega do púlpito, mas o risco de sairmos do culto com uma mochila cheia de bugigangas “abençoadoras” ou até com uma cusparada na cara aumenta.
Que tipo de cristão você quer ser: um repetidor de opiniões alheias, ou aquele que tem propriedade no que pensa e que maneja bem a palavra de Deus? Nossa vida é algo muito sério para que a coloquemos nas mãos de pessoas que nem conhecemos direito. Acho que as mãos de Deus são mais seguras. Não há problema algum se uma igreja tenha seus ritos, costumes e tradições, desde que isso não passe de costumes. Precisamos de tradições e marcos na vida para que tenhamos referências. Mas Deus nos deu sua palavra justamente para que possamos construir nossa fé. A vida com Deus pode ser muito sólida e recompensadora. Ele mesmo nos promete isso. Mas se deixarmos que falsas doutrinas nos influenciem, viveremos uma fé frustrada, aquém do que Deus quer para nós e ainda corremos um sério risco de nos perdermos do caminho mesmo sem perceber. Estude tua Bíblia, tenha vida com Deus e ele te mostrará a verdade. Que a paz de Cristo seja o árbitro de teu coração.
