O ÔNUS DO BÔNUS

 Vivemos em um país de 3º mundo, onde há muita coisa para ser mudada. De uma forma geral ficamos admirados, e até com “inveja”, de como as coisas funcionam bem em países desenvolvidos. Parece que quase tudo funciona como um relógio suíço e gostaríamos de viver uma realidade parecida. Mas há um pequeno detalhe. Geralmente queremos viver uma realidade dessas, mas sem pagar o preço. Admiramos a segurança que existe no trânsito japonês, citando apenas um exemplo, mas não somos capazes de respeitar uma simples placa de sinalização, e quando somos punidos por infringir regras, reclamamos da “indústria das multas”, e nos achamos injustiçados. Ou seja, queremos o bônus sem arcar com o ônus para desenvolver uma sociedade melhor.

 Mas não podemos pensar em vida em sociedade esquecendo de aplicar os princípios em nossa vida pessoal. A vida social é reflexo de como cada cidadão vive como indivíduo. Sou conhecido por ser uma pessoa muito crítica. Está certo que tenho que cuidar com isso, mas acho que em alguns casos devemos ser críticos. Por exemplo: sou mais crítico com quem carrega o nome de Cristo. Não por esperar que seja uma pessoa boazinha ou perfeita; o que espero dela, é que tenha atitudes coerentes com o seu discurso. E nessa questão do ônus e bônus, também se aplica na nossa espiritualidade.

É claro que a salvação não depende de nossos esforços, e a alcançamos pela graça e misericórdia de Deus. Não há nada que possamos fazer, além de uma decisão pessoal, que vá incrementar algo para sermos salvos. Mas é fato que a Bíblia está recheada de conceitos nos quais vemos claramente que devemos esforçar-nos para nos manter firmes. Talvez o exemplo que melhor mostre essa realidade é a vida de devocional dos cristãos. Todo cristão quer conhecer mais Deus, saber sua vontade para sua vida, e também usufruir das bênçãos do criador. Mas pesquisas mostram que o tempo que cada cristão investe na devocional é simplesmente ridículo. Cerca de 70% dos pastores não tem uma vida devocional consistente. É uma questão de lógica; como queremos conhecer Deus se não reservamos pelo menos 20 minutos por dia para ter um momento a sós com ele? Você realmente acha que eu vou desenvolver minha espiritualidade assistindo seriadinho da TV ou batendo papo no facebook? Não que isso seja errado, mas para isso geralmente arranjamos os 20 minutos por dia.

 Acabei de usar o termo “desenvolver a espiritualidade”. Isso me lembrou de uma palavra do apóstolo Paulo aos Filipenses, quando ele os exorta para desenvolverem sua salvação (Fil. 2.12). Esse desenvolvimento cabe ao homem. Fala-se que a meritocracia não se aplica na vida cristã; será? Não se aplica no caso da salvação, mas o que dizer da parábola dos talentos? O que aconteceu com aquele servo que não fez nada com o que recebeu?. O que a palavra fala sobre a pessoa que não trabalha? Isso sem citar o versículo de Hebreus 12, onde lemos que sem santificação ninguém verá a Deus. Ora, o processo da santificação depende de cada um, onde devemos investir esforços para desenvolver um caráter o mais parecido possível com o de Deus.

 Vivemos uma realidade na qual parece que há um senso comum em boa parte das igrejas que Deus faz tudo, e é ele que faz as coisas acontecerem. Ele realmente pode fazer tudo acontecer, mas é muito cômodo ficar sentado, de mãos estendidas esperando que as bênçãos caiam do céu. Será que a vida é assim?  Para aqueles que realmente querem um vida que tenha a plenitude do Espírito Santo, só há um caminho. Arregaçar as mangas e investir em uma vida cada vez mais íntima com Deus; mas isso demanda atitude e geralmente grandes esforços. Afinal, não há bônus sem ônus.

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