OUVIDO SELETIVO

Fui assistir a um culto de forma descompromissada em uma igreja luterana certo dia, quando a pregação me fez voltar para casa reflexivo. O sermão tinha como ponto principal o quanto temos ouvidos seletivos, o quanto prestamos atenção apenas nas coisas que nos interessa.

Sempre peço a Deus que me oriente através de sua palavra e que eu aprenda a entender e ouvir o que Ele quer me ensinar. Quando falamos de ouvido seletivo, eu lembro do jovem rico descrito na passagem de Mateus 19:16-22.

Este jovem queria saber o que ele tinha que fazer para herdar a vida eterna, o interessante é que o jovem parece que fazia tudo certinho, cumpria a lei, era íntegro e tudo o que Jesus havia falado para ele fazer aquele jovem havia feito. Ele não matava, nem adulterava, não roubava, nem dizia falso testemunho e honrava o pai e a mãe, era um jovem perfeito. Porém, sem o jovem esperar, Cristo dá a cartada final e fala, então vende tudo o que tem e de aos pobres que terás uma tesouro no céu, e depois vem e me  segue (v. 21).

Eu não acredito que Cristo queira que vivamos na pobreza, mas eu sei que primeiro Ele quer que confiemos n’Ele e que vivamos para Ele. E depois que entendamos que ser íntegro e fiel não é o bastante como bem pontua Ricardo Barbosa (2008, p. 138-139):

“O encontro de Jesus com o jovem rico tira duas máscaras que normalmente usamos em nossa espiritualidade. A primeira é a de pensar que ser íntegro é suficiente. Nossa integridade moral não garante uma coerência espiritual. […] A outra máscara que Jesus tira de nós é a relação utilitária na qual estamos viciados. Deus não é bom, é apenas útil”.

É aquela velha verdade, queremos ser servidos e não ser servos, queremos o favor d’Ele e não segui-lo, queremos o melhor desta terra e não ser o melhor para as pessoas. Pois ter, beneficia apenas a mim, ser servo, já me incomoda, me faz sair da zona de conforto para estender a mão e é isso que não queremos.

Queremos ouvir o que nos convém, queremos fazer o que nos agrada, queremos trabalhar sem suar a camisa, queremos servir a Deus sem servir ao irmão, e isso não é ser cristão. A igreja é uma comunidade e servir, apoiar, compreender e estender a mão vem com o compromisso de ser cristão.

A salvação é um dom de Deus, e Ele dá gratuitamente, mas nós temos que olhar para Ele, seguir seu caminho e não continuar nossa velha vida, trilhando nossos próprios caminhos malfeitos:

“Se aprendemos alguma coisa da narração sobre o jovem rico é que, apesar de a salvação ser um abençoado dom de Deus, Cristo não a dará a quem estiver com as mãos cheias de outras coisas” (MACARTHUR, 2015, p. 118).

Ou olhamos para Deus e o seguimos, ou voltamos para casa de mãos vazias. Ou nos esforçamos para estudar a sua palavra e entender a sua vontade, ou abrimos nossas próprias trilhas na vida e seguimos nossos próprios pontos de vista que geralmente são fracos e vazios.

Se realmente seguimos a Deus, temos que entender que é Ele que deve nos guiar. Se realmente seguimos a Deus, temos que entender que é a sua vontade que deve prevalecer a não a nossa.

BIBLIOGRAFIA

BARBOSA, Ricardo. Janelas para a vida: Resgatando a espiritualidade do cotidiano. Curitiba: Encontro Publicações, 2008.

MACARTHUR, John. O Evangelho Segundo Jesus. São Paulo: Editora Fiel, 2015.

2 comentários sobre “OUVIDO SELETIVO

  1. Graça e paz Guilherme

    Lamentavelmente o que eu enxergo em nossas comunidades não é apenas que temos ouvidos seletivos, mas que também quem prega term mensagens seletivas. Não prego isso porque o irmão pode se ofender, não comento isso porque a irmã sai da igreja, não vamos tocar neste assunto porque o povo não entende ou não aprova, etc…. As vezes o que parece é que “mataram” os fazedores de tendas do evangelho e estão dispostos a matar quem se levantar pra tentar fazer….. somos jovens ricos, fazendo tudo para herdar o que já é nossa herança pelo novo nascimento. Ouvimos o que queremos, e ficamos surdos quando a mensagem nos chama a atenção para um restauração de compromisso. Sei que não é geral, mas só o que vejo ultimamente; longe de ser pessimista, mas precisamos de uma perseguição para sermos “selecionados”. Sei que somos perseguidos de formas mais sutis, mas é isso que nos torna tão seletivos…sem perceber a gravidade de nossas ouvidos.

    Rogério Percel Aires

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