A ODISSEIA DA DOR XXI: FINAL

Era mais um dia no qual eu me dirigia a faculdade, já estava no final da graduação em teologia, e no começo de uma grande certeza, eu acreditava que a minha fé havia esfriado, cheguei a pensar na possibilidade de abandonar a fé. Por isso, subi a avenida bem pensativo, quando senti Deus falar comigo em meio a todas as dúvidas que me assombravam.

Quem me conhece sabe que eu não sou movido a experiências e emoções, mas naquele momento senti Deus me abraçando, sem me dar respostas algumas, mas me proporcionando o melhor, que é a sua companhia e a certeza de que eu não estava sozinho.

Em meio a dor, a dúvida e a impotência, precisei me curvar e confessar, que no final, eu só não queria aceitar, que eu não tinha controle algum. Nem sempre temos respostas, nem sempre Deus fala conosco, nem sempre temos o que queremos, mas nunca estamos sozinhos. E foi este sentimento que me sustentou. Entre o cinza e a dúvida, eu tinha apenas uma certeza, Deus estava comigo, desde o começo da busca, quando eu quase caí no ateísmo, até aquele momento, quando eu sentia Deus comigo, mesmo sem ter explicações.

Deus aparece para Jó, depois de muito tempo de sofrimento, mas não dá nenhum esclarecimento. Ele apenas coloca Jó no lugar, e deixa claro quem era o Deus naquela situação toda (Jó 38:1-3). Já José, não viu Deus como Jó, mas seguiu sempre confiando, apesar de todo o caos, ele sabia que no final, Deus estava com ele, por isso ele seguiu e confiou.

A verdade é que algumas de nossas dúvidas são arrogantes, são tentativas de pontuar e controlar. Queremos saber por que sofremos, por que aconteceu determinada coisa com a pessoa que amamos, ou por que Deus não nos responde. No final, as dúvidas soam arrogantes, como uma falta de capacidade em aceitar e entender que nós somos humanos, e Deus é Deus, ele sabe de tudo, e ele vai sempre fazer como bem lhe apraz.

Quem somos nós para pôr em dúvida os planos de Deus? O que é o homem, para acreditar que ele pode tudo e controla tudo, sem Deus não somos nada, já Deus sem nós, continua sendo soberano. Cheguei a algumas conclusões no que diz respeito ao sofrimento, algumas eu até já falei, outras não, mas procurarei concluir tudo em um só texto, para que possamos encerrar esta odisseia pontuando o assunto de forma bem clara e resumida.

Entenda uma coisa, Deus não é obrigado nos responder, e servir a ele não é ter as nossas vontades atendidas e muito menos perguntas respondidas, e sim, é confiar nele e crer que ele sabe de tudo e vai nos ajudar da melhor maneira possível.

Em primeiro lugar, o mundo é um caos por causa do homem e do pecado. Toda a dor e todo o caos são frutos do pecado do homem, o problema de todo o mal, é o livre-arbítrio humano e a sua complicada forma de viver. O mundo é esta anarquia, vivemos dia a dia, tendo que lidar com doenças, catástrofes, e problemas, justamente porque ele é um retrato do ser humano. É por conta disso que é complicado culpar Deus das nossas mazelas.

Em segundo lugar, o sofrimento demonstra o tamanho da nossa ignorância e o quanto somos limitados. A dor é o resultado de quem o homem realmente é por baixo da máscara de prepotência.  

Quando sofremos não vemos em volta, não percebemos nossos erros e falhas, e não demoramos em culpar alguém, ou mesmo a Deus. Não podemos simplificar a dor e o caos, mas também, não podemos acreditar que somos os únicos a sofrer. Todo mundo sofre, e quem não percebe isso, na verdade mergulha na ignorância de acreditar que a sua dor é única, ou que muitas vezes somos os maiores injustiçados. O sofrimento revela a nossa ignorância, e o quanto deixamos de perceber nossas falhas ou mesmo o mundo a nossa volta.

Em terceiro lugar, o sofrimento aponta para Deus. Se a dor nos limita, nos deixa sem ação, uma coisa é óbvia. Quando não temos saída, buscamos a única saída, que muitas vezes, por conta da dor, esquecemos, que é Deus.

A dor nos leva a olhar para Deus, é quando paralisamos e percebemos que não controlamos nada, que enxergamos ele e entendemos que o nosso sentimento de controle é falso. A dor mostra quem somos e o quanto Deus é soberano. É a dor que, quando estamos sem saída, nos obriga a confiar e entregar a nossa vida em suas mãos.

A arrogância e a prepotência são comuns no homem. O pecado nos fez egoístas, e suscetíveis a estes males, diante do menor sinal de dinheiro, status e poder. Contudo as dores nos moldam, transformam o nosso coração e nos obriga a olhar para Deus e confiar nele, independente da situação. Tudo vai depender do quanto você confia ou não em Deus.

Eu sei que a dor é complicada, não quero transformar o seu problema em algo fácil e simples de se enfrentar. Não é fácil ter que lidar com as adversidades, existem muitas variantes, muitos casos e não é legal sentir dor, ver alguém que amamos sentir ou ser privado de alguma coisa. Mas confiar e ter em mente que Deus de tudo sabe e nós, quase sempre não sabemos, normalmente nós confundimos as coisas e não percebemos o óbvio, é uma atitude honesta a se tomar.

Que o sofrimento nos leve a Deus, nos faça confiar ainda mais nele e entregar, de forma verdadeira, todos os problemas em suas mãos.

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