CONTRADIÇÕES E AUTOENGANOS

“Quando, porém, Pedro veio a Antioquia, enfrentei-o face a face, por sua atitude condenável” (Referência: Gálatas 2:11-14).

O autoengano não é algo incomum, aliás, é muito mais fácil agirmos de modo contraditório, sem percebermos nossas incoerências e divergências. E é assim que eu percebo o episódio que Paulo narra na Epístola aos Gálatas. Pedro estava se esquecendo de uma lição importante, seguindo desta forma, alguns costumes antigos, e agindo de modo contraditório, tudo e porque estava entre irmãos judeus.

Nesta passagem o apóstolo Paulo discorre sobre um embate que teve há uns cinco anos com o apóstolo Pedro, que havia tido uma recaída quanto as leis e costumes judaicos. Uma vez que seguidores da lei judaica haviam aparecido e insistiam em exigir à igreja cristã seus costumes. Mais uma vez, Paulo precisou enfrentar esta investida que levava a igreja a privilegiar algumas pessoas em detrimento de outras. Neste texto, Paulo faz uma ponte com o que aconteceu com os cristãos da igreja de Gálatas, visto que eles estavam em risco caírem novamente no mesmo erro (POHL, 1999, p. 77-78).

Paulo fala que Pedro, enquanto estava com os irmãos não judeus da comunidade, fazia suas refeições normalmente com eles. Contudo, quando judeus foram visitar aquela igreja, Pedro passou a não mais fazer suas refeições com os não judeus. Sendo que outros, que também eram judeus, começaram a imitar Pedro (Gálatas 2: 12-13).

Perceba que um ponto importante nesta passagem é o exemplo. Em uma igreja, quem está em cargo de liderança ou mesmo em evidência, acaba sempre sendo avaliado e em muitos casos imitado. E o apóstolo Pedro, como um bom judeu e discípulo direto de Cristo, não percebia a sua contraditória atitude. Quando estava com os não judeus, agia de uma forma, mas quando estava com os judeus, seu comportamento era outro e assim, a igreja seguia se dividindo.

Vemos a mesma história se repetir em nossos dias. Algumas igrejas insistem em guardar costumes, títulos e até ritos, que não são cristãos e assim, ela segue se dividindo cada vez mais e longe da palavra de Deus.

No final, o apóstolo Paulo repreende Pedro de modo bem duro (Gálatas 2:11-14), fazendo-o enxergar suas contradições e mudar seu comportamento. Pedro dava um mau exemplo e tinha um comportamento diferente, dependendo do grupo de pessoas que estava com ele. John Stott explica que:

“Se Paulo não tivesse adotado uma postura firme com Pedro nessa ocasião, toda a igreja cristã teria se arrastado para um comodismo judaico e estagnado, ou teria havido uma ruptura permanente entre os cristãos gentios e os cristãos judeus. A coragem notável de Paulo, naquela ocasião, em resistir a Pedro preservou tanto a verdade do evangelho como a comunhão internacional da igreja” (2018, p. 38).

Paulo foi bem rígido com Pedro, quebrando, inclusive, protocolos de diálogos e ensinos, que nós mesmo aprendemos, de como exortar o próximo. Mas ao nos lembrarmos de quem Pedro era e o quanto a sua influência deveria ser grande na igreja, entendemos o quão importante e amoroso foi a intervenção do apóstolo. A igreja poderia sofrer uma grande cisão por conta do exemplo equivocado de Pedro. Paulo termina o assunto pontuando que:

Mas sabemos que todos são aceitos por Deus somente pela fé em Jesus Cristo e não por fazerem o que a lei manda. Assim, nós também temos crido em Cristo Jesus a fim de sermos aceitos por Deus pela nossa fé em Cristo e não por fazermos o que a lei manda. Pois ninguém é aceito por Deus por fazer o que a lei manda (Gálatas 2:16) (NTLH).

Não é pela lei que o ser humano é salvo e sim, pela bondosa e infinita graça de Deus. É pela fé que somos salvos, por isso que a lei e os costumes judaicos, que muitas igrejas insistem em ressuscitar, são grandes equívocos.

 Estamos sempre sendo observados, sendo nós líderes diretos ou não. Em algum grau nós influenciamos, mesmo que em um nível pequeno, por isso que precisamos fundamentar a nossa fé na palavra de Deus, para que as nossas ações e discursos, sejam reflexos da sua palavra.  

BIBLIOGRAFIA

POHL, Adolf. Carta aos Gálatas: Comentário Esperança. Curitiba: Editora Esperança, 1999.

STOTT, John. Lendo Gálatas com John Stott. Viçosa: Ultimato, 2018.

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