OPINIÃO SEM ESFORÇO

Faço parte de uma geração que não presenciou uma guerra mundial. Somente alguns conflitos locais que não tiveram tanto impacto no mundo. Mas somente estes casos já são suficientes para nos mostrar os horrores que uma guerra pode causar. Certamente, a única guerra com a qual temos tido contato são as batalhas de ideologias. O mundo tem estado cada vez mais polarizado e o combate segue cada dia mais acirrado. A parte que me deixa preocupado nesta batalha toda é a ânsia que um dos lados tem em calar a oposição, como se a opinião discordante não pudesse existir. Existe uma imposição cada vez mais forte em nossos dias e uma falta de capacidade de aceitar as opiniões contrárias.

Tenho medo daqueles que insistem em ter opinião sobre tudo, esta característica somente revela como a pessoa, na verdade, não sabe de nada. Para termos um bom ponto de vista, precisamos de esforço, de trabalho intelectual e leitura. Estas são atitudes básicas para uma opinião bem fundamentada. E José Ortega y Gasset, no livro A rebelião das massas, faz uma brilhante crítica ao homem medíocre, com opinião sobre tudo, sem qualquer esforço prévio para forjá-la.

Ortega y Gasset discorre sobre um grupo de pessoas bem presente em nossos dias, que insiste em impor e conviver apenas com aqueles que concordam com eles. E a opinião sem esforço, é um fato que explica muito bem a ação destas massas.

Sobre a opinião sem esforço, Gasset ensina que o homem medíocre é aquele que acredita que pode ter a opinião sobre qualquer tema ou conteúdo, sem empenho algum em forjar o seu ponto de vista (2016, p. 141). Assim sendo, estas pessoas versam sobre temas diversos, sem o mínimo de leitura, pesquisa e reflexão, sendo que a maioria dos assuntos importantes necessita de algum tempo e muita análise, para conseguirmos construir um olhar coerente.

Estas pessoas se contentam com o repertório de ideias que possuem, sem sentir qualquer necessidade de estudar e aprimorar seus conhecimentos. Com isso, estes se sentem completos e autossuficientes, mas com um repertório totalmente limitado (GASSET, 2016, p. 142). Ortega y Gasset complementa:

“O homem-massa se sente perfeito. Um homem de seleção, para se sentir perfeito, tem que ser especialmente vaidoso, e a crença em sua perfeição não está consubstancialmente unida a ele, não é ingênua, mas vem de sua vaidade, e tem um caráter fictício, imaginário e problemático até para ele mesmo. Por isso o vaidoso precisa dos outros, porque busca neles a confirmação da ideia que quer ter de si mesmo” (2016, p. 142).

Nestas constantes discussões e debates políticos, vemos pessoas que não dialogam, não pensam na opinião oposta e, se puderem, até diminuem as pessoas que possuem bons argumentos. E, como estes indivíduos seguem fechados em seus grupos e não dialogam com quem discorda deles, eles não se abrem para nada fora da sua esfera de pensamento.

É o que Gasset chama de homem-massa, um grupo de pessoas vaidosas, com repertório limitado e que não se abrem para o diálogo honesto, preferindo se fechar para as outras pessoas e qualquer coisa que fuja do limitado contexto deles. O livro explica toda a história, a dinâmica desta massa de uma forma tão atual, que não parece que a obra tenha sido escrita em 1930.

Creio que o autor conceituou de forma muito certeira a dinâmica da guerra de ideologias que temos visto. E não é um debate ou uma discussão honesta para assim o grupo chegar a uma opinião razoável, e sim uma discussão com o propósito de afagar egos e apenas ganhar um debate. Ou seja, é uma discussão inútil.

É o que eu sempre digo, alguns problemas sociais são complexos, por isso, precisamos de humildade e de muito diálogo honesto para conseguirmos chegar a uma resposta razoável. Sem humildade e abertura para ouvir e dialogar, a guerra continuará sem qualquer utilidade.

Já faz muito tempo que eu não entro em alguns debates, justamente porque nem todos possuem a motivação correta. Saber expor o seu argumento, a partir de fontes coerentes e de muito trabalho intelectual, e também saber ouvir, são atitudes fundamentais para as discussões produzirem frutos. Se eu não tenho certeza de que estas ações serão cumpridas, prefiro me calar ao invés de entrar em uma discussão só para tentar ganhar.

Desconfie de quem opina, mas sem buscar informação e conteúdo. Tenha cuidado com aqueles que possuem opinião sobre tudo, mas não buscam estudar e construir conhecimento. São estes que acreditam saber e não se esforçam para buscar conhecimento.

Bibliografia

GASSET, José Ortega Y. A rebelião das massas. Campinas: Vide Editorial, 2016.

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