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INTRODUÇÃO À HERMENÊUTICA AGOSTINIANA
A Bíblia é um livro que necessita de interpretação, sendo que a hermenêutica é uma disciplina que estuda métodos de compreensão e interpretação de textos. E para aqueles que querem entender mais a palavra de Deus, é imprescindível ter acesso a estas ferramentas.
Sobre a interpretação bíblica, Agostinho de Hipona foi um pensador que escreveu um livro chamado A doutrina cristã, o qual é um manual que ajuda o leitor a interpretar a Bíblia. Nesta obra, ele expõe o seu método de interpretação, sendo que o artigo que escrevi aborda justamente a interpretação bíblica de Santo Agostinho a partir deste importante livro.
O artigo se chama: Introdução a hermenêutica agostiniana, e foi publicado em 2022 na revista STVDIVM do Instituto Quero Saber.
Link do texto:
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DESAFIOS DA ESPIRITUALIDADE CRISTÃ VII: O DESISTIR BÍBLICO E A VIDA CRISTÃ
Desistir é visto por muitos como algo negativo, é a atitude de pessoas fracas, bom mesmo é resistir e perseverar. Entretanto, existem momentos onde desistir não é fracassar, na verdade, pode ser o melhor passo que alguém pode dar em algumas ocasiões. Algumas vitórias dependem de largarmos certos pesos, assim sendo, desistir se faz necessário, como muito bem explicam Geri e Peter Scazzero no livro Eu desisto!
A obra inicia explicando qual é o tipo de desistência de que eles estão falando. E não se trata de ser fraco e jogar tudo para o alto, mas abandonar as ilusões, parar de fingir que está tudo bem e ser verdadeiro, quando a sua vida não está boa (SCAZZERO et al., 2014).
O próprio desistir bíblico, ou seja, deixar para trás o velho homem, o pecado e tudo o que nos afasta de Deus é uma atitude essencial. Nestas ocasiões, desistir é fundamental (SCAZZERO et al., 2014). Sobre o desistir bíblico, Geri Scazzero explica que:
“Desistir trata-se de morrer para as coisas que não são de Deus. Não se engane, essa é uma das coisas mais difíceis que fazemos por Cristo. Mas a boa notícia é que o desistir em si não é o fim; é também o início. O desistir bíblico é o caminho de Deus para a ressurreição, para que surjam coisas novas em nossa vida” (SCAZZERO et al., 2014, p. 21).
É preciso morrer para tudo o que não agrada a Deus, a vida cristã é um morrer para as coisas do “mundo” e viver para Deus. Quando desistimos de tudo o que é errado, conseguimos perseverar nas coisas certas.
Sobre o tema desistir, o livro explica como muitas coisas que fazemos têm outras motivações, como, por exemplo: temer o que os outros pensam de nós, e, diante disso, acabar agindo e fazendo coisas só para manter uma aparência. Ou se sobrecarregar de tarefas, que, na maioria das vezes, não precisamos fazer sozinhos. No livro, eles falam de oito coisas importantes que precisamos desistir, e os outros tópicos que eu não mencionei são: desistir de mentir, de morrer pelas coisas erradas e alguns outros fundamentais temas, mostrando como é necessário desistirmos para conseguirmos chegar em algum lugar.
Muitos acabam não conseguindo realizar inúmeros planos justamente porque não largaram no meio do caminho, bagagens inúteis, que só atrapalham a caminhada. Geri, mais uma vez, enfatiza que:
“Desistir ensinou-me a ser leal às coisas certas” (SCAZZERO et al., 2014, p. 23).
Ou aprendemos a desistir, ou seguiremos sobrecarregados, carregando fardos que não são nossos ou que podem ser divididos com outros. Gosto de quando os autores falam de limites, do quanto os limites são princípios fundamentais, são dádivas divinas. Sendo que toda a criação, bem como todo o ser humano, possui estes limites. O homem não é uma máquina que funciona sem parar (SCAZZERO et al., 2014). Diante desta verdade, precisamos ter limites e desistir de tudo o que não é da nossa responsabilidade.
O livro é essencial, ele nos ensina a arte de termos responsabilidade com a nossa vida, ministério e saúde. Ele aconselha os cristãos a ajudarem uns aos outros, mas também a entender que nem tudo é da nossa responsabilidade e ajudar, não é assumir o problema do próximo.
Viver em comunidade é uma das características do cristianismo, por isso que aprender a conviver e colocar limites é imprescindível, sendo que o livro fala muito da importância deles, para podermos frutificar no ministério que Deus nos deu.
É possível ver alguém muito atarefado, ativo na obra, mas que segue sem fazer o que Deus quer que ele faça no reino, ou mesmo que faça a obra desleixadamente por conta das suas muitas atividades. Entender isso é perceber o quanto o ativismo na igreja nos separa do propósito de Deus e aprender a delegar as responsabilidades é fundamental. Seja na igreja, família ou em outras áreas.
Não é possível fazermos com qualidade inúmeras coisas, por isso que desistir e aprender a dividir as tarefas é imprescindível.
Bibliografia
SCAZZERO, Geri.; SCAZZERO, Peter. Eu desisto!: Pare de fingir que está tudo bem e mude de vida. São Paulo: Editora Vida, 2014.
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A INCERTEZA DA VIDA INCERTA
Aprendi, ainda novo, como é indispensável alguém sempre relembrar de onde ele veio. Tal prática é ótima para as pessoas conseguirem manter os seus pés firmes no chão, afinal, é impossível não termos um coração grato, quando recordamos as nossas origens e onde estamos hoje.
Para quem veio de uma família pobre, relembrar o passado ajuda a pessoa a valorizar as coisas que tem e ser grato a Deus por isso. Já aqueles que vieram de uma família abastada, tal recordação ajuda o indivíduo a ser agradecido por todas as oportunidades que teve na vida. Uma lição aprendida não tem preço e relembrar o passado ajuda a recordarmos estas lições para não repetirmos os mesmos erros.
Em contrapartida, viver no passado é seguir atrasado, quem vive somente olhando para trás, não avança e segue sempre parado no tempo. O mesmo problema tem quem apenas olha para o futuro e não vive o momento, cultivando medos de coisas que ainda nem aconteceram, prevendo um caos, que não existe. Sêneca afirma que:
“Muito breve e bastante agitada é a vida daqueles que se esquecem do passado, descuidam do presente e temem o futuro. Ao chegarem ao termo final da vida, então, tardiamente, vão entender como são infelizes, já que seus dias afanaram-se em nulidades” (SÊNECA, 2007, p. 63).
Transformamos a nossa vida em uma breve existência, quando não aprendemos a viver de forma equilibrada, fugindo dos excessos. Perceba também como relembrar o passado, de um modo centrado e comedido, é muito importante para não esquecermos de onde viemos. E pensar no futuro, sem medo, confiando sempre em Deus, é igualmente necessário. Caso contrário, podemos ser roubados por inúmeras frivolidades.
Aprenda a viver o hoje, descubra maneiras de ser equilibrado, cuidando da sua carreira e futuro, mas sem afastar seus olhos do presente. Caso contrário, você permanecerá paralisado por coisas que nem existem, ou por meras projeções da sua mente. Muitos dos nossos medos são frutos de projeções equivocadas.
A vida tem aquele ar de incerteza, já que nada é para sempre. Sendo assim, precisamos ter planos, metas e projetos, mas sempre de um modo realista, já que nada é eterno. É perigoso vivermos apenas para os planos e nos esquecermos do hoje, das coisas que estão acontecendo e que podemos aproveitar. Saber planejar, mas também vivenciar o hoje é muito importante.
A palavra que precisamos memorizar é “equilíbrio”, é dosar bem os nossos planos, escolher com cuidado as preocupações e não seguir desmedidamente, já que viver é para hoje, e amanhã pode ser muito tarde.
O medo nos coloca em um limbo, o excesso de planejamento e cuidado com o futuro nos faz perder o hoje, as coisas que estão acontecendo e que podemos aproveitar. No final, perceba a importância do equilíbrio na sua vida. Preocupe-se de modo coeso, lembrando que viver é estar no presente.
É quando conseguimos ser realistas e dosar as nossas preocupações que conseguimos viver, planejando de modo coeso, mas também vivendo e desfrutando do hoje.
BIBLIOGRAFIA
SÊNECA. A brevidade da vida. São Paulo: Editora Escala, 2007.
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MEDITAÇÃO CRISTÃ
Não é raro termos dias corridos nesta nossa sociedade atual, a pressa é o ritmo dos nossos dias e, por conta disso, muitas vezes levamos a pressa conosco, em nossos devocionais. Por isso, precisamos aprender a separar um tempo de qualidade para oração e leitura bíblica e assim mantermos viva a nossa vida espiritual.
Muitos leem a Bíblia somente para cumprir um protocolo e poder falar que a lê diariamente. Outros oram de uma forma tão rápida, apenas para seguir uma convenção. E no final, estas importantes práticas diárias, viram ações mecânicas.
A leitura e a oração são práticas importantes para todos os cristãos. É primordial lermos e meditarmos na palavra de Deus, além de orar. Mas aprender a ter este momento sem qualquer pressa, é uma prática também imprescindível, principalmente em nossos dias que são cada vez mais corridos e conectados. Parece que o ser humano hoje não desliga nunca, e acaba sem priorizar o seu momento com Deus. Gosto da definição que Richard Foster faz sobre meditação cristã:
“A meditação cristã, numa definição simples, é a capacidade de ouvir a voz de Deus e obedecer à sua vontade” (2018, p. 47).
Com isso, para conseguirmos ouvir a voz do nosso soberano Pai, precisamos entender como a pressa atrapalha a nossa meditação. Por isso, busque separar um tempo, acorde mais cedo e construa um momento para meditar e praticar este tempo importante. Aprenda a ter períodos desligados de distrações, de redes sociais e quaisquer equipamentos que tirem o seu foco principal. Priorizar a Deus e a sua palavra é uma questão de atitude, de posicionamento.
Normalmente, no momento em que acordo, eu já agradeço a Deus pelo meu dia, em uma breve oração de agradecimento. E depois do café, começo o meu período de devocional. Meditar é fundamental, tirar um tempo para ficar em silêncio e refletir sobre o que lemos é uma ação importante, que nos ajuda a guardarmos e entendermos a palavra de Deus, internalizando todo o ensino. Procuro ler sempre capítulos curtos da Bíblia ou mesmo dividir um texto grande em várias partes, visto que o propósito principal é conseguir reter o máximo de conteúdo e depois meditar naquela parte do texto bíblico. Normalmente leio, desta forma, todos os livros da Bíblia, buscando sempre meditar nos ensinamentos sem pressa alguma. Richard Foster novamente complementa, falando do ócio santo:
“Os pais da Igreja falavam com frequência sobre o Otium Sanctum, o “ócio santo” — o senso de equilíbrio na vida, a capacidade de se apaziguar em meio às atividades do dia, a habilidade de descansar e deter-se para admirar a beleza, a aptidão de manter um ritmo compassado” (2018, p. 59).
Por conta do nosso dia corrido, muitas vezes esquecemos de valorizar estas práticas importantes para todos os cristãos. Mas o caminho é aprender a criar estes momentos sem negociar este período com qualquer outra coisa.
Cultivar estes momentos de ócio, de meditação e reflexão, ajudará você a construir equilíbrio e um período de reflexão e de solidão com Deus. Fugir destes dias eternamente conectados e apressados, é imprescindível para aqueles que buscam crescer e serem bons cristãos.
Em vista disso, seja intencional e construa este período de secreto com Deus, cultivando um pouco do ócio santo, se desligando de todas as atividades e coisas que roubem o seu momento com Deus. E neste tempo, aprenda a descansar no senhor, meditar na sua palavra e ouvir a sua voz sem pressa alguma.
Bibliografia
FOSTER, Richard. Celebração da disciplina: O caminho do crescimento espiritual. 2. ed. São Paulo: Editora Vida, 2018.
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DESEJANDO O SABER
A nossa vida é muito cheia de estímulos, a internet, bem como todas as redes sociais, proporcionam constantes informações e interações. Checar as notificações do celular tem sido o vício que hoje o ser humano está totalmente vulnerável.
Eu gosto muito de estudar, ler e pesquisar, a busca pelo conhecimento é uma das minhas maiores alegrias, como eu sempre falo aqui no site, embora confesse que, até para mim, às vezes não é fácil. Conciliar todos os estímulos, com a minha rotina de estudos e leitura, requer ferramentas e soluções, para não ser engolido pelas constantes notificações.
Algumas pessoas são movidas pela ânsia em ter segurança e condições financeiras, gastando seu tempo e dinheiro estudando para passar em um concurso público ou mesmo em uma universidade pública. Outros, seguem esta empreitada pelo simples desejo de ter um sonhado diploma e depois poder arranjar um bom emprego. Já o intelectual, normalmente, é movido pela sede de conhecimento, não há outro motivo em um país que não investe tanto em pesquisa. Sertillanges em seu clássico livro A vida intelectual, diz:
“O desejo de saber define nossa inteligência como potência vital. Instintivamente queremos conhecer, como queremos pão” (2019, p. 76).
O desejo pelo saber é determinante, ele nos ajuda a superar todas as desculpas que costumamos usar para evitar a rotina de estudos. Não é fácil manter tal rotina, pois estudar e construir o saber é uma empreitada lenta que demora para oferecer seus frutos.
Quem deseja mergulhar no saber deve deixar as desculpas de lado e caminhar neste propósito, buscando sempre ferramentas e métodos de aprimoramento que ajudarão em sua busca pelo aprendizado. É como o ditado popular diz:
“Quem quer faz, quem não quer arranja desculpas”.
Ou você aprende a transpor os obstáculos para se dedicar nesta árdua, mas prazerosa tarefa, ou segue dando desculpas, culpando tudo e todos pelo seu insucesso.
Não é fácil cultivar o hábito da leitura em um mundo hiperconectado, e muito menos é simples montar uma rotina de estudo e pesquisa, em meio a tanta distração, mas basta foco e persistência, para você ver os frutos de seu esforço, ao invés de focar nas desculpas.
O intelectual é alguém que deseja muito o saber, este é a sua maior motivação, o combustível que fará com que ele siga em constante busca. Este desejo é a potência que define a nossa missão e constrói o nosso conhecimento.
Sem esta sede, sucumbimos e gastamos os nossos dias em coisas que não trazem fruto algum!
BIBLIOGRAFIA
SERTILLANGES, A. D. A vida intelectual. Campinas: Editora Kírion, 2019.
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DESAFIOS DA ESPIRITUALIDADE CRISTÃ VI: A ESPIRITUALIDADE CRISTÃ E AS EMOÇÕES
Alguns sentimentos são vistos por determinados cristãos como negativos e não bíblicos. E a ira, a tristeza e o medo figuram como os principais. O verdadeiro cristão não tem tais sentimentos, falam estas pessoas.
O problema é quando abrimos a Bíblia e encontramos homens de Deus em momentos de ira, medo ou tristeza. Cristo mesmo se sentiu angustiado um pouco antes de morrer na cruz (Lucas 22:44), Ele também chorou (João 11:35) na frente de todos. Sem contar que temos um livro da Bíblia chamado Lamentações e muitos Salmos de Davi, com lamentos e tristezas de homens de Deus, que não tinham medo de expor suas dores. É fundamental entendermos que tais sentimentos são genuínos, saber gerenciar coerentemente estas emoções, ao invés de escondê-las, é o grande segredo.
Geri Scazzero (2014) no livro Eu desisto, argumenta que hoje as pessoas têm se mostrado analfabetas emocionais, justamente porque não sabem lidar com suas emoções e insistem em se distanciar e até esconder estes genuínos sentimentos.
No fundo, o ser humano hoje tem sentido medo de parecer vulnerável, insuficiente e fraco, entretanto, mascarar tais emoções nos prejudica ainda mais. Somos seres humanos, falíveis e fracos, mas que insistem em se mostrar intocáveis. Aprender a lidar com os nossos sentimentos, na verdade, nos fortalece. E cada uma das emoções aponta para áreas e realidades que precisam ser trabalhadas.
Com uma habilidade incrível, Geri consegue mostrar os lados positivos dos sentimentos vistos como negativos. A ira, por exemplo, revela como, em muitos momentos, alguns limites pessoais podem estar sendo afrontados. E são nestes momentos que o ser humano precisa se autoavaliar e buscar entender quais coisas importantes estão sendo ultrajadas para assim colocar limites (SCAZZERO et al., 2014, p. 97). Geri Scazzero explica que:
“Diz-se que a ira é um “sentimento secundário”. A ira geralmente coexiste com outros sentimentos tais como dor, tristeza, decepção e vergonha. Por isso, explorar essas emoções mais profundas e vulneráveis é essencial para lidar com a ira de modo maduro” (SCAZZERO et al., 2014, p. 98).
Assim sendo, buscar o autoconhecimento para entender quais são as coisas que nos tocam e os limites que muitos ultrapassam é muito importante para aprendermos a agir com sabedoria em um momento de ira.
A tristeza é outro sentimento genuíno que muitos cristãos tentam negar. Mas ficar triste e lamentar não é nada errado. Como afirmei no começo do texto, Salmos e lamentações são livros com desabafos e lamentos. E temos um Deus, que podemos derramar o nosso coração de modo sincero e genuíno.
Por fim, temos o medo, visto por alguns, como um verdadeiro pecado. Mas o medo é um sentimento natural quando estamos em meio ao perigo ou às ameaças, e a Bíblia também fala de muitos profetas e homens de Deus, que sentiram medo, mas seguiram confiando em Deus. Como Moisés, que aos 80 anos precisou enfrentar o Faraó. Davi e o seu embate com Golias em meio a muitos que afirmavam que ele não poderia vencer aquele gigante, entre tantos exemplos que a palavra de Deus nos oferece (SCAZZERO et al., 2014, p. 107). O nosso desafio é identificá-los e colocar todos nas mãos de Deus para seguirmos a nossa missão. Geri complementa:
“Cada um desses exemplos bíblicos nos ensina que coragem não é ausência do medo. Pelo contrário, é a capacidade de pensar e agir apesar dos nossos medos, é avançar sobre eles por causa de uma visão mais ampla de Deus” (SCAZZERO et al., 2014, p. 108).
Não existe problema algum com o medo, sendo que é possível até termos ações mais cuidadosas, por conta dele. Coragem é agir, apesar do medo, confiando sempre no cuidado de Deus.
Ao meditarmos de forma bem realista sobre estas emoções, constatamos que sentir não é um problema, o problema é paralisar em meio a estes sentimentos. Saber vivenciar tais momentos de modo genuíno, sem ficar ancorado em tais situações, é o grande segredo.
Tudo vai do seu posicionamento e como você trata estas emoções. Não podemos negá-las e muito menos ser paralisados por elas. É possível sentir e seguir, confiando que Deus está caminhando conosco.
Bibliografia
SCAZZERO, Geri.; SCAZZERO, Peter. Eu desisto!: Pare de fingir que está tudo bem e mude de vida. São Paulo: Editora Vida, 2014.
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FALSA SEGURANÇA
Conheci alguém há algum tempo que era muito competitivo, e costumava falar que não entrava em uma competição para perder. No final, ele quase sempre vencia honestamente ou não, o importante, segundo ele, era vencer. E quando perdia, ficava muito bravo, era difícil para este indivíduo aceitar uma derrota.
A parte perigosa da personalidade desta pessoa era que nunca se satisfazia com uma vitória somente. Logo o efeito da vitória passava e ele precisava de mais, em uma insaciável busca pela glória, era uma espécie de droga.
Tal cenário é muito comum entre empresários, esta sede de realizar e vencer é constante e esconde um vazio no coração. É muito prazeroso poder colocar em prática projetos e ver um plano dar certo, o perigo, apenas, é cair naquele erro de acreditar que somos invencíveis, que somos superiores aos outros. Isso coloca o ser humano em um pedestal, fazendo-o crer ser intocável, fato que com o tempo descobrimos ser um grande engano. O ser humano é realmente pequeno e frágil, o menor sinal de instabilidade planta em seu coração inúmeras preocupações. Timothy Keller resume muito bem este problema, quando afirma que:
“A falsa sensação de segurança origina-se da deificação de nossa realização e da expectativa de que ela nos mantenha protegidos dos problemas da vida de um modo que só Deus consegue fazer” (2018, p. 94).
A busca por estabilidade e segurança em qualquer coisa fora de Deus só demonstra uma sede humana, que faz parte da história e das características de todos os homens pecadores. O ser humano sem Deus é vazio, além de frágil. É por isso que entendo ser essencial cultivarmos uma vida equilibrada e fugirmos de algumas armadilhas que o dinheiro e o poder constroem para nós.
E eu acredito que a busca pela simplicidade e o equilíbrio é justamente o caminho para fugir das armadilhas do poder. Quando vivemos uma vida simples, e acima de tudo, com a nossa vida fundamentada na palavra de Deus, conseguimos escapar desta perigosa sensação de autossuficiência.
Muitos precisam sempre vencer para preencher alguns buracos na alma. O problema é que os aplausos duram pouco, por isso, o ser humano sempre precisará de mais. Buscar na realização pessoal algo que apenas Deus pode dar é um erro. O homem quer estar completo e seguro, mas busca a segurança em coisas finitas, por isso, precisa estar sempre repondo e realimentando a sua sensação.
Aprendi que, independentemente das vitórias e fracassos, é em Deus que a minha vida está fundamentada. Sou grato a Ele por tudo e hoje entendi que alguns vazios só o nosso Pai eterno pode completar.
O ídolo do poder é sutil, ele entra em nossa vida com aquele ar de merecimento, você chegou onde está porque mereceu. E em alguns casos isso pode até ser verdade, visto que você pode ter se dedicado muito para galgar algumas conquistas em sua vida. O problema é que gradualmente o poder toma o lugar de Deus, ao dar aquele ar de segurança e proteção. E com o tempo, se não tomarmos cuidado, as conquistas e nossas vitórias viram deuses e divindades protetoras.
Por isso, coloque os seus planos sempre nas mãos de Deus e entenda que suas realizações não podem tomar o lugar de Dele. Ou depositamos toda a nossa vida em Suas mãos, ou seguiremos tentando matar uma sede que só o Eterno pode satisfazer.
Não existe segurança alguma fora de Deus e apesar das intempéries, quando Deus está no centro da nossa vida, passamos pelas tormentas e dificuldades seguros Nele.
Bibliografia
KELLER, Timothy. Deuses falsos: As promessas vazias do dinheiro, sexo e poder, e a única esperança que realmente importa. São Paulo: Vida Nova, 2018.
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A IMPOSIÇÃO DAS MASSAS
A vida em sociedade pode ser resumida em uma grande e infindável aglomeração de indivíduos. Viver em sociedade é ter que enfrentar diariamente uma copiosa multidão. Quem nunca pegou um ônibus lotado, um congestionamento ou mesmo foi a uma praia abarrotada de banhistas? Mas nem sempre foi assim, como explica José Ortega y Gasset no livro A rebelião das massas.
Existiu um mundo onde as pessoas viviam divididas em pequenos grupos. Sejam em povoados afastados das cidades, nas aldeias ou bairros. Naqueles tempos, as pessoas viviam menos aglomeradas, contudo, hoje vemos inúmeras multidões em todos os lugares, muito mais do que antes (GASSET, 2016, p. 79).
Enquanto no passado cada um se concentrava em sua comunidade, vivendo conforme seus costumes e lidando com inúmeras dificuldades que a vida trazia, já que naquela época ninguém tinha tudo, um simples banheiro ou algumas facilidades que temos em nossos dias eram coisas raras. Hoje as pessoas têm tudo, pelo menos muito mais do que antes, e se acham no direito de impor suas opiniões a todos. O acesso criou uma nova forma de pensar nas pessoas.
O autor define massa como indivíduos que não se valorizam ao ponto de acreditarem serem como todos. Este homem-massa gosta de ser igual à multidão, ele não se sente inferior por conta disso, ao contrário, esta é uma das suas peculiaridades mais latentes (GASSET, 2016, p. 81). Poderíamos dizer que estes são os conformados, aqueles que acreditam que a vida é assim mesmo e todos precisam seguir uma lógica semelhante e aceitar que a vida é assim. E são muitos os que, ao invés de optarem viver conforme querem, optam por seguir a moda, o costume das massas, se moldando, assim, ao costume imposto.
É impossível não olharmos para os nossos dias e percebermos claramente este fato acontecendo quando grupos vivem segundo o que a moda ou o marketing incentiva. Existem também aqueles que acreditam que todos devem viver segundo as suas crenças e, por isso, exigem uma linguagem neutra, opiniões e costumes impostos, sendo que, quem pensa diferente, eles buscam calar e eliminar da sociedade, como se fosse um erro contestar e pensar diferente. Gasset explica esta dinâmica pontuando que:
“A massa sufoca tudo que é diferente, magnânimo, individual, qualificado e seleto. Quem não for como todo mundo, quem não pensar como todo mundo, corre o risco de ser eliminado” (2016, p. 84-85).
Assim sendo, como cristão, eu muitas vezes tenho inúmeros problemas com esta massa, principalmente quando me posiciono contra o aborto; o totalitarismo mascarado em algumas opiniões políticas e assim por diante. A massa não aceita o diferente e tenta impor a sua forma de pensar a todos.
Viver é decidir, é ser obrigado a usar a nossa liberdade para tomarmos decisões e entendermos o que vamos fazer neste mundo. E isso também serve para a vida coletiva, que disponibiliza um grande horizonte de possibilidades para escolhermos. E nesta sociedade onde temos a possibilidade de escolher nossos governantes, este direito de votar só mostrou como quem escolhe, no final, é o homem-massa. Existiu um tempo em que as massas não podiam decidir, somente aceitavam as escolhas da minoria e seguiam a vida. Hoje precisamos aceitar a opinião da maioria, do homem-massa e colher as consequências (GASSET, 2016, p. 118).
Apesar de gostar de viver em uma democracia, aceitar que uma boa parte dos nossos atuais problemas é fruto de escolhas ruins de uma massa alienada, que muitas vezes é manipulada em nome de propósitos escusos, é sempre desafiador. Ainda mais em nossos dias, com os governantes tomando atitudes totalitárias como estamos vendo, usando narrativas mentirosas para seguirem vivendo nababescamente enquanto a sociedade passa dificuldade.
Viver em meio aos homens-massa é assim, sendo esta uma das críticas que o autor traz. A massa decide, aceita narrativas muitas vezes mentirosas e segue segundo a opinião de todos, sem realmente refletir, pensar e decidir por vontade própria. Gasset novamente afirma que:
“O homem-massa é o homem cuja vida carece de projetos e anda à deriva. Por isso não constrói nada, ainda que suas possibilidades, seus poderes, sejam enormes” (GASSET, 2016, p. 119).
Esta é a nossa sociedade, pautada na mentalidade daqueles que insistem em seguir a massa, que ouvem e acreditam, sem refletir e pensar, que seguem a correnteza sem ter um pensamento próprio.
Antigamente, a vida não era fácil, viver era um desafio e envolvia ter que lidar com inúmeras dificuldades. Hoje a vida é fácil, e as pessoas esquecem de ser gratas pelas facilidades da vida, que não existiram em outros tempos. O homem-massa é, antes de tudo, alguém que só pensa em seus direitos e acredita que tudo gira em torno de si, na conhecida mentalidade do menino mimado.
O que antes era considerado um presente da sorte, que gerava no coração das pessoas uma atitude de gratidão, virou um direito. Hoje em dia, as pessoas seguem muito mais exigindo, se esquecendo de ser grato pelas coisas que possuem (GASSET, 2016, p. 126). Como pontuei, antes não existia o mínimo para alguém viver dignamente ou com algum conforto, por isso que era fácil agradecer pelo pouco que a pessoa conseguia.
É esta massa, que segue o fluxo do mundo, sem critérios, reflexão e esforço, exigindo seus direitos, mas impondo a sua opinião a todos. E ao olhar para a nossa realidade, fico impressionado como um livro escrito em 1930 consegue descrever com tanta lucidez a realidade da nossa sociedade.
Bibliografia
GASSET, José Ortega Y. A rebelião das massas. Campinas: Vide Editorial, 2016.
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OS DESAFIOS DA MISSÃO INTERNACIONAL
O cristianismo, desde o seu início, fez a diferença nos países e contextos nos quais esteve inserido, mostrando como o evangelho muda a vida das pessoas e a realidade na qual elas estão presentes. Sem contar que são muitos os projetos missionários que levam não somente a mensagem, mas também ajuda e cuidado às pessoas.
A parte desafiadora da vida missionária em alguns países é conviver com as perseguições, sendo que muitos acabam pagando com a vida, em nome de obedecer ao chamado cristão de ir pregar o evangelho (Marcos 16:15). Fico impressionado com os relatos de Ronaldo Lidório em um de seus livros, quando ele narra a oração de abertura de um culto em uma igreja perseguida:
“Senhor, abençoa-nos neste culto e aceita o nosso louvor, pois não sabemos se estaremos vivos para terminá-lo” (2003, p. 78).
Enquanto ir à igreja é uma prática comum em alguns países, em outros, o culto pode ser pago com a própria vida. Nik Ripken (2017), no livro A insanidade de Deus, narra a história de inúmeros cristãos perseguidos, mostrando como a vida cristã em alguns contextos é desafiadora. Na obra, ele conta sobre a perseguição que ocorria na China, na União Soviética e na África. Sendo que ainda existem perseguições em muitos destes países, devido ao contexto político, mas também religioso, uma vez que em países islâmicos, o cristianismo não é aceito, com isso, cristãos pagam a sua fé em Deus com a sua vida.
Em locais como a China, Ripken (2017) explica que qualquer compromisso com algo que está acima do estado é visto como uma ameaça, o país está acima de tudo, por isso que as igrejas sofrem perseguições.
A missão em outros países é realmente grande, a organização internacional Portas Abertas divulga uma série de notícias de cristãos sendo perseguidos em outros países, mostrando uma triste realidade daqueles que servem a Cristo. No e-book gratuito denominado Rota de perseguição, produzido pela instituição, eles listam os treze países mais perigosos para os cristãos. E mais de 380 cristãos têm enfrentado problemas sérios, devido à fé que eles têm em Deus, ou seja, um em cada sete cristãos é perseguido, segundo dados da instituição (PORTAS ABERTAS, 2025). Sobre a lista, a missão afirma que:
“O Top 13 da Lista Mundial da Perseguição é formado pelos países onde a perseguição aos cristãos atinge o nível extremo. Nesses locais, seguir a Jesus envolve risco de discriminação, agressão, prisão e morte” (PORTAS ABERTAS, 2025, p. 4).
Entre os países perseguidos estão: a Coreia do Norte, Somália, Iêmen, Líbia, entre outros (PORTAS ABERTAS, 2025). Por isso, orar por estes países e buscar envolver a igreja para ajudar é essencial.
O e-book resume algumas informações essenciais sobre a perseguição nestes países e também várias fotos e declarações de cristãos perseguidos, e uma delas é a declaração de Fatemeh, uma cristã que vive no Irã, um país predominantemente islâmico, onde ela diz que:
“No Irã, o governo vê nossa fé como uma ameaça. Nós vivemos sob constante vigilância e enfrentamos diferentes tipos de pressão” (PORTAS ABERTAS, 2025, p. 13).
Orem por estes cristãos, divulguem estes dados e envolvam a igreja nesta importante missão. Que Deus nos ajude a apoiá-los e que o evangelho faça a diferença nestes lugares.
Bibliografia
LIDÓRIO, Ronaldo. Missões: O desafio continua. Belo Horizonte: Betânia, 2003.
PORTAS ABERTAS. Rota da Perseguição. São Paulo: Missão Portas Abertas, 2025. Disponível em: https://missao.portasabertas.org.br/ty-rota-da-perseguicao. Acesso em: 27 out. 2025.
RIPKEN, Nik. A insanidade de Deus: Uma verídica e impactante história sobre a perseguição aos cristãos. Barueri: Ágape, 2017.
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INTOLERÂNCIA CONTRADITÓRIA
Existe uma diferença bem grande entre as igrejas que procuram incentivar seus membros a viverem uma vida de santidade, acompanhando e apoiando as pessoas, auxiliando-as a conseguirem imitar a Cristo. Daquelas igrejas que tentam impor, segregar e humilhar aqueles cristãos que falham. É um grande desafio ser cristão, às vezes, em meio à caminhada, cometemos erros.
A tolerância foi um dos grandes presentes que recebi de uma igreja que frequentei por anos. O pastor não demorava em apoiar e dar uma nova chance àqueles que cometiam erros. Por conta disso, muitos cresceram e aprenderam a seguir o evangelho de modo genuíno.
O ponto importante sobre a tolerância é justamente entender que só é tolerante aquele que entende que todo mundo erra, inclusive ele. O pastor ou o líder que têm esta mentalidade normalmente é flexível. A consciência da falibilidade humana gera um espírito paciente.
Lembro-me de um amigo que foi pedir ajuda para este mesmo pastor, em uma área em que ele (o pastor) também tinha dificuldade. E este amigo ficou admirado com a sinceridade do pastor ao confessar a mesma falha e, neste caso, ele conseguiu ajudar ainda mais o amigo com a troca de experiências e ainda quebrar aquela visão errônea que muitos têm em acreditar que todos os pastores são perfeitos. Saber que não somos os únicos a passar por certas dificuldades nos ajuda, além de termos o apoio de quem entende bem nossos desafios.
O tolerante é alguém consciente e clemente, por entender a condição humana e se colocar como apoio e não como juiz inclemente. Normalmente, em ambientes onde os líderes são intolerantes, uma boa parte dos membros acaba sendo tolhido de falarem dos seus erros e por isso, estes nem sempre conseguem mudar e o ambiente acaba se tornando tirânico, onde o diálogo e a mudança não existem. Augusto Cury fala sobre isso, quando pontua que:
“Quando não existe tolerância e afetividade, o melhor dos ambientes, mesmo que religioso, é tirânico” (2006, p. 65).
Onde não há espaço para sermos quem somos e não há apoio para mudarmos e crescermos espiritualmente, também não há verdade. No final, são apenas pessoas interpretando um papel, usando máscaras para esconder suas reais aparências.
E a igreja, por ser um hospital de almas, precisa ser um lugar onde falar das dificuldades seja algo comum, sendo este o primeiro passo da mudança. Confessamos para buscar a cura, enquanto nos apoiamos mutualmente, para conseguirmos vencer as nossas dificuldades. Só mudamos quando confessamos os nossos erros e seguimos na busca por mudança.
Não existem líderes infalíveis, todo mundo erra, sendo que o intolerante acaba errando duas vezes. Primeiro por não confessar que é falível; segundo, por não dar espaço para os irmãos se confessarem e tratarem suas dificuldades. Uma igreja saudável é um local de compreensão e apoio.
Uma igreja precisa ser primeiramente bíblica, a palavra de Deus deve estar sempre no centro da comunidade e também precisa ser um espaço de apoio e cura. Um lugar onde confessar nossos erros e sermos acompanhados seja uma prioridade.
Bibliografia
CURY, Augusto. Os segredos do Pai-Nosso: A solidão de Deus. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.
