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  • A IMPORTÂNCIA DOS AMIGOS

    Os amigos são peças importantes em nossa vida, a vida solitária é complicada, mas com a presença e o apoio deles, a caminhada fica um pouco mais leve. Sendo que, alguns amigos são muito mais próximos do que irmãos (Provérbios 18:24).  

    Uma das características mais evidentes dos amigos é a liberdade que eles têm conosco, tanto para falar ou discordar sobre assuntos, quanto para advertir e muitas vezes nos aconselhar. Um amigo fala abertamente, sem medo de magoar. Nem sempre temos uma opinião unânime, mas temos total confiança de falar e discordar.

    Eu sempre digo que o verdadeiro amigo em alguns momentos é chato, visto que o amigo não deixa de nos avisar e ajudar, ele não se isenta de falar e advertir quando é necessário. Já o colega não liga se a pessoa está tomando decisões equivocadas, para ele, pouco importa. Amigo não é quem concorda com tudo, mas aquele que tem autonomia para dialogar, conversar e nos alertar. Ao falar da carta de Paulo a Filemom, Silvado explica que:

    “Amigo não é quem concorda com tudo, é quem tem liberdade para discordar de nós. É quem tem liberdade para nos mostrar um novo caminho” (2024, p. 11-12).

    Você tem bons amigos que discordam de você e dos seus planos e mostram ideias melhores, ou caminhos mais coerentes? No afã de realizarmos os nossos planos, muitas vezes não percebemos certos erros, mas quem tem um bom amigo pode também ter um bom conselheiro ou pelo menos alguém que observa um fato, por outro ângulo. É fácil nos enganarmos, mas eles podem nos ajudar a melhorarmos as nossas decisões.

    Filemom é uma pequena carta, a menor que o apóstolo Paulo escreveu e a última a ser redigida, sendo que Romanos é a maior. E esta carta tem um tom pessoal, entretanto, apesar disso, ela não é uma carta particular direcionada apenas a seu amigo, visto que ele menciona Timóteo, seu colaborador, sendo este também um dos destinatários da epístola, além de Áfia, Arquipo e a igreja que existia na casa de Filemom (v. 1) (BOOR; BÜRKI, 2007, p. 435). E no texto é possível notarmos o tom de amizade e intimidade que Paulo tinha com Filemom. O apóstolo queria falar do escravo Onésimo, que havia fugido, mas depois se convertido ao evangelho, e o pedido que ele fazia ao amigo era que recebesse este fugitivo como irmão amado (v. 16). A epístola de Filemom é um pedido de um amigo a outro, solicitando que o seu irmão recebesse bem o fugitivo, que agora era um convertido.

    Em meio à minha curta vida, já recebi avisos e orientações de amigos que, com ótimas intensões, queriam me ajudar a não tomar decisões erradas. Eu dou graças a Deus aos que sempre me alertaram e já comemoraram comigo as minhas vitórias e choraram os meus fracassos. No caso da carta de Paulo ao seu Amigo Filemom, ele queria alertá-lo justamente sobre isso, avisando-o que Onésimo não era mais um simples fugitivo voltando para casa, mas um irmão em Cristo, alguém que havia sido alcançado pela graça divina.

    Os amigos são estes, que possuem total liberdade para conosco e não têm medo ou receio de serem chatos e em alguns momentos exigentes e felizes com as nossas realizações. São eles que nos apoiam e nos alertam, nos auxiliando a decidirmos e agirmos de um modo mais coerente.

    Por isso, cultive amigos, aprenda a caminhar com pessoas que apoiarão você, sendo que uma amizade possui uma relação de apoio mútuo, um ajuda o outro e esta é a verdadeira dinâmica da amizade.

    Bibliografia

    SILVADO, L. Roberto. Filemom, passado apagado. Curitiba: Editora Discipular, 2024.

    BOOR, Werner de.; BÜRKI, Hans. Carta aos Tessalonicenses, Timóteo, Tito e Filemom: Comentário Esperança. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2007.

  • A MENTALIDADE DE MERECIMENTO E A GRAÇA DIVINA

    Não é incomum vermos indivíduos atribuindo a culpa de todas as catástrofes do mundo a algumas pessoas ou classes sociais. Normalmente são estes que dividem o mundo em mocinhos e bandidos. Sendo que os bandidos são sempre os outros.

    Na igreja, a divisão é feita entre pecadores, que são as pessoas que não são cristãs e os cristãos, os justos. Quem tem Jesus, segundo estes, são abençoados, quem não tem, vive no caos e na falta.

    A parábola do filho pródigo (Lucas 15:11-32) fala um pouco disso. É quando Jesus conta a história do irmão mais novo, o pródigo, que pediu toda a sua herança ao seu pai, ofendendo-o por tal pedido e depois por sair de casa. Ele o desonrou com estas atitudes e gastou todo o dinheiro de forma irresponsável. Mas Cristo também fala do irmão mais velho do filho pródigo, que foi aquele que não aceitou o perdão do pai, quando o seu irmão retornou arrependido.

    O irmão mais velho havia sido fiel, ele trabalhou duro para o pai e queria recompensas. No seu modo de ver a vida, era injusto o pai perdoar o irmão ingrato, afinal, ele não havia se esforçado tanto e também não era fiel como ele. Timothy Keller acrescenta algo importante sobre esta parábola:

    “Se, a exemplo do irmão mais velho, você pensa que Deus precisa abençoá-lo e ajudá-lo porque, afinal de contas, você se esforçou tanto para obedecer e ser uma pessoa do bem, então Jesus até pode ser seu ajudador, seu exemplo e até inspiração, mas ele não é seu Salvador. Você está servindo na condição de seu próprio Salvador” (2018, p. 41).

    Perceba como, no final, cada irmão estava usando o seu pai de uma forma diferente, sendo que ambos acreditavam que mereciam retorno. O filho pródigo entendia que ele deveria ter acesso à sua herança, mesmo com o seu pai vivo e o filho mais velho, queria ser recompensado por suas atitudes. No final, os dois irmãos estavam usando o seu pai, ambos tinham uma mentalidade de mérito.

    A graça é uma loucura justamente porque desconstrói o mérito. E se você acreditar ser merecedor por ser obediente, fiel e frequentador assíduo da igreja, você não só não entendeu a graça, mas também está usando Deus como fonte de ganho. Com a sua “fidelidade” o propósito é conquistar os favores de Deus. A questão é que o evangelho não nos ensina isso.

    O evangelho nos ensina que ninguém merece, ser humano algum é digno de favor algum, não existe justo algum (Romanos 3:10-12), todos são pecadores (Romanos 3:23-26). A divisão em mocinhos e bandidos é errada, na verdade, segundo a palavra de Deus, todos são bandidos, ninguém merece a graça divina. E se fomos alcançados, precisamos ter este sentimento de humildade.

    O propósito do termo já deixa isso explícito. Graça é um favor para aquelas pessoas que não merecem ajuda alguma. Com isso, pressupomos que aqueles que foram alcançados também não mereciam, por isso, eles precisam ser humildes e gratos a Deus.

    O mundo poderia ser dividido em pessoas culpadas e culpados alcançados pela graça divina. E isso não pode gerar em nosso coração orgulho, mas um sentimento de gratidão a Deus. Só é orgulhoso quem acredita que merece a ajuda, tal qual o irmão mais velho da parábola.

    A vida cristã não pode ser vivida como uma eterna busca por retorno, como se merecêssemos a graça de Deus, mas com gratidão e humildade, visto que, fomos alcançados, sem merecimento algum.

    Bibliografia

    KELLER, Timothy. O Deus pródigo: Recuperando a essência da fé cristã. São Paulo: Vida Nova, 2018.

  • SANTO AGOSTINHO E A VIDA EQUILIBRADA

    Existe um conceito na música que se resume em: “menos é mais”, ou seja, na maioria das vezes é o excesso que atrapalha, visto que ele não permite executarmos uma música da forma mais coerente e correta. É melhor o pouco, mas bem feito, do que o excesso que acaba poluindo a canção. O mesmo conceito podemos aplicar em nossa vida.

    Aprendi ao longo da vida a viver uma vida simples, descobri como nós não precisamos de tudo, com isso, descobri como selecionar bem as coisas que quero e pensar bem se preciso de determinadas coisas, sendo este um caminho interessante, que nos ajuda a termos o suficiente. Menos é mais, como resume o conceito musical, visto que o que importa não é a quantidade, mas justamente o quanto realmente desfrutamos de algo.

    Um dos problemas da nossa sociedade é que costumeiramente o marketing e as redes sociais, muitas vezes, nos fazem termos necessidades de objetos que nem sempre precisamos. Perceba como muitos insistem em vender coisas para você, sendo que criar esta necessidade em sua mente é um bom primeiro passo. E sobre vida equilibrada, gosto de citar o ótimo exemplo de Santo Agostinho.

    Possídio, em sua obra: Vida de Santo Agostinho, relata como o Bispo de Hipona buscava se vestir e adquirir coisas simples, mas adequadas, sendo que um perigo que todos os seres humanos sofrem é justamente a soberba ou a humilhação, sendo que nos dois casos os interesses pessoais e não os de Cristo, ficam acima de tudo (POSSÍDIO, 2022, p. 63). Posssídio complementa:

    “Suas vestes, calçados e lençóis eram simples, mas adequados; nem ótimos, nem péssimos” (POSSÍDIO, 2022, p. 63).

    Agostinho vai falar que o excesso de bens, o luxo e a ostentação plantam no coração humano a arrogância e a soberba que fazem o ser humano tirar os olhos de Deus, contudo o mesmo pode acontecer com aqueles que passam uma vida de faltas e humilhação (POSSÍDIO, 2022, p. 63). É fácil desviarmos os olhos de Deus por conta do luxo e da ostentação, e também não é raro vermos muitos reclamando, tudo e porque estão passando por um período de dificuldade. Tanto a humilhação quanto as dificuldades levam o ser humano a reclamar e também tirar os olhos de Deus. Cuidar com os excessos e buscar viver uma vida comedida, mas também ser grato a Deus e não permitir que os problemas e dificuldades nos façam tirar os olhos dele, é uma atitude essencial. Sendo esta uma vida equilibrada, de alguém que vive entendendo que Deus precisa estar no centro de tudo.

    Aprendi a ser grato a Deus por tudo, descobri como muitas vezes deixamos de perceber a provisão e a graça de Deus nos auxiliando na caminhada. Nem sempre conseguimos realizar os nossos sonhos ou alcançamos nossos objetivos do modo no qual acreditamos ser o mais acertado, mas em momento algum Deus deixa de cuidar de nós.

    A vida equilibrada nos faz ver mais, nos ajuda a valorizarmos o que temos e a não nos pautar por posses ou metas profissionais. A vida é muito maior do que posses ou carreira profissional.

    É na simplicidade que conseguimos viver e desfrutar do cuidado de Deus, entendendo que a nossa maior missão é mantermos os olhos fixos nele, o resto são coisas secundárias.

    Bibliografia

    POSSÍDIO. Vida de Santo Agostinho. São Paulo: Paulus, 2022.

  • SANGUE INOCENTE

    “Quando Herodes percebeu que havia sido enganado pelos magos, ficou furioso e ordenou que matassem todos os meninos de dois anos para baixo, em Belém e nas proximidades, de acordo com a informação que havia obtido dos magos” (Referência: Mateus 2:13-16).

    Como cristão, fico muito preocupado quando seres inocentes são alvos da ação irresponsável do ser humano. O pecado transforma este mundo, criado por Deus, em um caos, mas nós cristãos precisamos aprender a nos posicionar a favor de todos os seres que não podem se proteger. Sejam os animais, que sofrem com a gananciosa ação humana, ou mesmo as crianças, que não conseguem vir ao mundo por conta do aborto, que em alguns países é permitido, e no Brasil, a briga pela liberação ainda é grande.  

    E sobre a iniquidade humana, o próprio Cristo, quando veio ao mundo, foi perseguido pelas mãos injustas de Herodes, mostrando como o ser humano não tem freios e muito menos limites quando ele quer alguma coisa. Esta passagem bíblica revela justamente o tamanho da insanidade humana e o quanto ele consegue fazer por sua ideologia.

    O episódio narrado na passagem bíblica da epígrafe do texto (Mateus 2:13-16), diz respeito à matança de inocentes que só o evangelho de Mateus narra. Após Herodes ser avisado de que Jesus havia nascido, ele se perturbou (Mateus 2:3), assim como toda Jerusalém, o que o levou a perseguir Jesus e organizar a morte de inúmeros inocentes. Esta perseguição de Herodes obrigou a família de Jesus a fugir para o Egito, após o aviso de um anjo que apareceu a José por meio de um sonho (Mateus 2:13).

    Herodes, que, naturalmente, assassinou tanto a sua esposa quanto os seus filhos, não teve dificuldade alguma em matar alguns meninos desconhecidos. E estas crianças não eram somente de Belém, mas também da região ao entorno, visto que ele queria estar certo de que Maria não ficasse ilesa. A quantidade de crianças mortas não foi alta, já que Belém é uma cidade pequena. Devido a tão pequeno número de crianças mortas, este incidente não foi narrado por Flávio Josefo e muito menos pelos outros historiadores da época (CHAMPLIN, 2014, p. 278).

    Tenho um grande receio quanto aos militantes, a política é uma benção, mas consegue também produzir muito caos e descontruir as bases da sociedade. Quando a liberdade humana perde limites, seguimos rumo à barbárie, como foi visto em muitos países totalitários. Aleksandr Soljenítsyn em sua obra Arquipélago Gulag, narra um pouco desta falta de limites, de uma política que brigou por liberdade, mas quando conseguiu, não demorou em instaurar o caos. Ele diz que:

    “Depois de Herodes, só mesmo a Doutrina Progressista para explicar como exterminar até bebês” (2019, p. 605).

    Sou contra o aborto justamente porque vidas inocentes não podem ser punidas pelas ações irresponsáveis de casais que não se cuidam. Existem muitos métodos contraceptivos, por isso que uma vida humana não pode perecer em nome de um capricho. Sei que existem exceções, contudo, estou me referindo à norma. O aborto ceifa uma vida inocente e indefesa. Aprovar o aborto é comunicar que vida alguma tem valor.

    Sem contar que o aborto, em um país onde existe uma grande fila para a adoção, é uma injustiça. Ter a liberdade de assassinar uma vida inocente é uma ação desumana. É comum, militantes afirmarem que a mulher deve poder mandar em seu corpo, porém, a vida de um feto está além do seu corpo.

    Cristo foi perseguido em seu tempo, e a fuga para o Egito só colaborou para o cumprimento de uma profecia (Mateus 2:15), visto que Deus sabe de tudo. E em nossos dias, não podemos aceitar que existam leis que permitam que vidas inocentes sejam ceifadas devido a ideologias militantes. Antes, é preferível que órgãos de adoção tenham a possibilidade de encaminhar estas crianças para um lar responsável.

    Em um mundo onde o sexo está cada vez mais banalizado, permitir que inocentes pereçam em nome do capricho de alguns é um erro. Ou protegemos todas as vidas inocentes, ou permitiremos à injustiça do ser humano definir o que é uma vida inocente, segundo seu ponto de vista. E permitir isso seria um grande erro.

    Bibliografia

    SOLJENÍTSYN, Aleksandr. Arquipélago Gulag: Um experimento de investigação artística 1918 – 1956. São Paulo: Carambaia, 2019.

    CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo: Volume 1. São Paulo: Hagnos, 2014.

  • A CULTURA DA GANÂNCIA

    Na conhecida obra Um conto de Natal de Charles Dickens, Scrooge, o personagem central da história, é descrito como alguém muito rico, mas também muito avarento, que acreditava que celebrar o Natal era um desperdício de tempo e dinheiro. Ele tinha dinheiro, mas vivia economizando tudo, visto que, acumular riquezas era o seu objetivo de vida.

    Gosto desta história porque ela mostra como o ser humano vive sem perceber suas contradições. Ele segue acreditando estar certo e só nota suas incoerências, quando acontecimentos o obrigam a pensar sobre a sua vida e escolhas, no caso do Scrooge, foram os espíritos do Natal, mas nós, pode ser a nossa saúde ou a morte de entes queridos. Gosto de como Charles Dickens descreve Scrooge logo no início da obra, o retrato é uma caricatura de alguém autocentrado e egoísta:

    “Scrooge era um tremendo pão-duro! Um velho sovina, avarento, mesquinho, unha de fome e ganancioso! Duro e áspero como uma pedra de amolar, não era possível arrancar dele a menor faísca de generosidade. Era solitário e fechado como uma ostra” (2011, p. 10).

    O dinheiro é algo ambivalente, ao mesmo tempo que ele permite vivermos bem, comprarmos coisas úteis e livros, ele também pode virar um deus falso, como diria Timothy Keller, um ídolo que toma todo o espaço da nossa vida. Muitos transformam a busca pelo dinheiro no objetivo final, a prioridade máxima da sua existência.

    No livro Deuses falsos, Timothy Keller explica como a maioria das pessoas, inclusive cristãos, curiosamente não se veem como gananciosos e avarentos. O que permite que as pessoas sigam no engano, sem perceberem o erro das suas atitudes. Keller acrescenta que:

    “A ganância se esconde da própria vítima. O modus operandi do deus dinheiro inclui a cegueira em nosso próprio coração” (KELLER, 2018, p. 73).

    A ganância é um assunto trabalhado por muitos autores, inclusive filósofos, sendo que a “cultura da ganância” é justamente o assunto levantado por estes pensadores e é um dos grandes problemas da nossa época. E enxergar a ganância em nós é sempre desafiador, a maioria das pessoas não percebe e, por conta disso, não mudam (KELLER, 2018, p. 72). O desafio é caminhar em um mundo onde acumular coisas não é um erro, na verdade, é sinal de status e sucesso. À luz da Bíblia, um avarento é um idólatra. O Apóstolo Paulo, em Efésios explica que:

    “Porque bem sabeis isto: que nenhum fornicador, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus” (Efésios 5:5) (ARC).

    Um avarento pode ser visto como idólatra, porque coloca o dinheiro no lugar de Deus em sua vida, como um ídolo, que não pode ser tocado e precisa ser reverenciado. Ele existe, mas tem a função primordial de lhe dar status e posição, não é algo que você usa para um fim pontual e sim, um deus que precisa ser servido. Warren Wiersbe complementa:

    “Paulo equipara a avareza à idolatria, pois consiste na adoração de algo além de Deus” (2006, p. 58).

    Este tipo de idolatria transforma o ser humano em um servo do dinheiro. Assim como pessoas serviam a reis e juízes terrenos, muitos vendem a sua alma para o ídolo da riqueza. E ao esperar que estes ídolos lhe deem significado de vida e segurança, servi-los e obedecer-lhes é a motivação central, sendo que, quando você vive para estas coisas, se torna um escravo delas. Mas quando Deus é o centro de tudo, o resto fica abaixo, em uma posição inferior (KELLER, 2018, p. 77). Timothy Keller novamente complementa:

    “Se sua identidade e segurança estão em Deus, as riquezas não podem controlá-lo por meio da preocupação e do desejo” (KELLER, 2018, p. 77).

    Eu já enfrentei muitos vieses financeiros, momentos nos quais, precisei buscar recolocação no trabalho, o que já é difícil por si só, enquanto lidava com um problema sério de saúde. É claro que nestas horas, a dúvida e a preocupação davam as caras, insistindo em jogar no coração o fardo da preocupação. Mas confiar é justamente seguir, acreditando no cuidado e provisão de Deus. E em todos os momentos, víamos Deus cuidando de nós.

    O dinheiro e as posses trazem consigo preocupações, basta uma crise financeira que tudo acaba ruindo, mas quando a nossa vida e segurança é fundamentada em Deus, as preocupações e o desejo descontrolado não ganham lugar em nosso coração.

    A ganancia é perigosa, pois, nos faz colocar o coração nas coisas passageiras. A nossa riqueza está no eterno Deus e não em objetos que se vão com o tempo. Confiar no dinheiro, é construir sua casa na areia, em coisas que não se sustentam, quando as tempestades da vida surgem (Mateus 7:24-27).

    Vivemos em uma sociedade onde viver a vida para ter as coisas, não é um erro. Na verdade, aquele que tem muito, que acumula bens, é visto como uma pessoa de sucesso. Nadar contra esta maré é o nosso desafio como cristãos. Entenda que, não estou falando que temos que viver uma vida de pobreza e sim, para não colocarmos o nosso coração nas posses.

    Nós estamos no mundo, mas o nosso coração precisa estar em Deus. Colocar coisas no lugar de Deus, é fundamentar a sua vida em objetos efêmeros. Confie no eterno, coloque ele no centro de sua vida e não permita que um ídolo algum tome o seu lugar.

    Bibliografia

    DICKENS, Charles. Um conto de Natal. Porto Alegre: Editora L&pm, 2011.

    KELLER, Timothy. Deuses falsos: As promessas vazias do dinheiro, sexo e poder, e a única esperança que realmente importa. São Paulo: Vida Nova, 2018.

    WIERSBE, Warren W. Comentário bíblico expositivo: Novo Testamento 2. Santo André: Geográfica Editora, 2006.

  • FILHOS DE DEUS II

    “Digo porém que, enquanto o herdeiro é menor de idade, em nada difere de um escravo, embora seja dono de tudo. No entanto, ele está sujeito a guardiães e administradores até o tempo determinado por seu pai. Assim também nós, quando éramos menores, estávamos escravizados aos princípios elementares do mundo” (Referência: Gálatas 4:1-7) (NVI).

    A dependência é uma das principais características das crianças, visto que elas são totalmente dependentes dos pais. Por isso que orientar os filhos, estar sempre junto, apoiando e ensinando é uma ação importante.

    No contexto judaico, os filhos eram importantes, na verdade, as pessoas que não tinham filhos não eram bem vistas. Contudo, enquanto eles não completassem a idade certa para o Bar Mitzvah, que é a cerimônia que marca o início da maioridade religiosa, uma criança não era responsável por seus atos de forma consciente.

    O próprio Cristo recebeu as crianças de modo aberto, além de ter usado elas como exemplo de como devemos receber o reino dos céus (Marcos 10:13-16). Jesus Cristo desafiou os costumes do seu tempo, mostrando como o evangelho é algo muito mais profundo do que a cultura religiosa demonstrava.  

    Este texto conclui a discussão que a passagem aborda sobre a função da lei. Champlin explica que Paulo parte do fato que o filho de uma família nobre daquela época, embora fosse o herdeiro de todas as propriedades, não usufruía deste status, na verdade, ele vivia em uma posição de treinamento, educação e disciplina, sendo que muitas vezes um escravo era designado para isso, tendo desta forma autoridade sobre ele. A lei acaba tendo uma dinâmica semelhante, visto que a pessoa acaba ficando debaixo da autoridade dela até que a graça divina o liberte e o faça vivenciar as bençãos de Deus (2014, p. 613).

    À sombra da lei, o ser humano era um herdeiro com menor idade e por isso acabava tendo muitas restrições. Ele era alguém sem liberdade alguma e, mesmo sendo herdeiro e um futuro senhor, ele não era maior que um servo da época. É desta forma que Paulo descreve a dinâmica da lei no Antigo Testamento, antes da vinda de Cristo (STOTT, 2018, p. 67-68).

    Paulo também fala dos espíritos elementares que escravizavam os seres humanos e o propósito não é afirmar que a lei é ruim, maligna, visto que ela foi dada por Deus a Moisés. O que ele quer expor é que o inimigo pegou uma coisa boa e adulterou com o intuito malévolo de escravizar as pessoas (STOTT, 2018, p. 68). E o diabo é um mestre em adulterar o que é bom e justo. Ele pega o que é genuíno e transforma em correntes que prendem e escravizam os seres humanos. John Stott complementa e explica que:

    “Deus intentou que a lei revelasse o pecado e nos levasse a Cristo; Satanás a usa para revelar o pecado e nos levar ao desespero” (STOTT, 2018, p. 68).

    Por isso, foi inevitável Cristo vir nos libertar desta condição, sem a sua graça, acabamos por ficar presos em algo genuíno, mas usado de forma equivocada.

    Sob a sujeição da lei, o ser humano é como uma criança de menor idade, um herdeiro com inúmeras restrições e que não tem diferença alguma dos servos. Mas a partir da graça, Jesus Cristo nos liberta para vivenciamos a realidade que Deus tem para nós.

    A conclusão sobre a lei é que ela revela o nosso pecado e nos leva a Cristo, por isso que não mais seguimos a lei, visto que somos discípulos daquele que morreu por nós e nos libertou para uma nova vida.

    Bibliografia

    CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo: Volume 4. São Paulo: Hagnos, 2014.

    STOTT, John. Lendo Gálatas com John Stott. Viçosa: Ultimato, 2018.

  • A VERDADE DELIRANTE

    As nossas crenças e o modo como vemos o mundo definem muita coisa. Refletimos e construímos opiniões sobre a vida, a política ou religião, entre tantos temas importantes, a partir das crenças e visões de mundo. Estas crenças nos guiam e certamente, em alguns momentos, nos levam por estradas complicadas, visto que nem sempre elas possuem fundamentos. E para explicar esta falta de fundamentos, gosto do conceito de verdade delirante, que Edgar Morin trabalha em seu livro O mundo moderno e a questão judaica. Este conceito explica muito bem o perigo escondido em algumas formas de pensar.

    Algumas verdades são delirantes, ou seja, são verdades parciais, que, de forma local e isolada, até podem ser verdadeiras, mas que quando são usadas de uma forma descontextualizada, terminam por ser uma grande mentira. Edgar Morin ensina que:

    “O que é uma verdade que se tornou delirante? É uma verdade de observação isolada, destacada de seu contexto e depois integrada num contexto ideológico artificial […]. É uma verdade parcial que se considera como verdade total quando o espírito reduz uma totalidade complexa a um único fragmento isolado e hipostasiado. É uma verdade local ou isolada que se generaliza de maneira abusiva” (2007, p.75-76).

    O autor usa o antissemitismo, visto muito em nossos dias, como um bom exemplo de verdade delirante que é quando as pessoas constroem estereótipos de judeus, sendo que podemos ver estas caricaturas também em filmes. É quando as pessoas afirmam que todos os judeus são ricos ou que um judeu normalmente é pão-duro.

    Um bom exemplo de uma verdade que se torna delirante, na minha opinião, é generalizar, que normalmente parte de um princípio verdadeiro, mas que se torna algo incoerente, pela forma e extensão com que a verdade é usada. No final, esta opinião se torna sem sentido e contraditória. Outro exemplo de generalização são aquelas pessoas que usam um acontecimento infeliz, como, por exemplo: aqueles pais que costumam abandonar os seus filhos, para justificar o aborto, visto que, nem todos os pais abandonam seus filhos e o abandono parental, não pode ser uma justificativa para o aborto. Na verdade, estas são duas questões que precisam ser tratadas e discutidas de forma independente. O abandono parental e o aborto são assuntos diferentes, e precisam ser discutidos separadamente.

    Na igreja a verdade delirante se resume em falar que Deus é poderoso e por isso, ele fará um grandioso milagre na vida das pessoas, basta dar uma oferta de fé, segundo estes. E perceba a verdade delirante nesta fala, é claro que Deus é poderoso e nos responde e esta é uma grande verdade, mas é sempre da sua forma, em seu tempo e segundo a sua vontade, sendo que, algumas respostas são negativas, nem sempre ele age como queremos. Deus é Deus, por isso que, ele sempre faz conforme bem lhe apraz.

    A militância de plantão também usa muitas verdades delirantes, eles pegam pautas genuínas, como a desigualdade, o preconceito racial e muitos outros temas relevantes, e usam como verdades para divulgar uma ideologia. Uma coisa é se posicionar por uma pauta identitária buscando assim posicionamento e ação da sociedade e do governo. Outra coisa é usar estas pautas para promover uma ideologia.  

    Tudo começa quando acreditamos que estamos certos. Unindo isso ao fato que muitas vezes nós não percebemos nossas contradições. A maioria dos nossos erros acontece por conta da nossa certeza. Aquele que se perde é porque na maioria das vezes, acredita que não está perdido.

    Precisamos ser humildes e confessar que alguns casos escapam a nossa compreensão, por isso que é essencial tomar cuidado com a verdade delirante. É fácil usarmos um princípio verdadeiro, mas de forma errada. Ou usar uma verdade de forma descontextualizada, em nome de atender outros propósitos. Como o autoengano é comum a todos os seres humanos, distorcemos a verdade sem percebermos, acreditando estarmos fazendo uma ação genuína.

    Bibliografia

    MORIN, Edgar. O mundo moderno e a questão judaica. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

  • MANIFESTO CONTRA A DESESPERANÇA

    A felicidade é maravilhosa, mas se sustenta em cima de um fio bem fino, fácil de ser rompido, a felicidade é muito frágil e pode ser perdida sem qualquer dificuldade. Sem contar que é preciso construir uma vida de felicidade, ela se resume a uma ação diária de contentamento e da busca por olhar para o que vale a pena. Já a tristeza não, ela é dinâmica e está sempre aparecendo, mesmo sem ser convidada.

    Perceba como a desesperança é dinâmica e se instala em todas as áreas da nossa vida. Mesmo quando temos uma vida boa, de tempos em tempos, precisamos lidar com episódios complicados que nos trazem aquela falta de esperança. Seja uma enfermidade, um período de recolocação de trabalho ou mesmo a morte de um familiar, que tira o nosso chão. É fácil perdermos a esperança, mesmo que, no geral, tudo esteja dando certo.

    E mesmo para alguém bem realista, como eu sou, nem sempre é simples lidarmos com certas situações. A desesperança é uma convidada indesejada, mas insistente, teima em aparecer em nossa vida.

    É fácil disfarçar os momentos de tristeza, basta ser positivo e motivado ou ser alguém que insiste em ver sempre o lado bom dos problemas. Mas é inevitável encararmos a desesperança, quando esta pessoa positiva abaixa a guarda. A motivação é temporária, como o banho, precisa ser praticada diariamente e nem sempre conseguimos deixar a motivação em dia, por isso, são nestas horas que precisamos enfrentar os momentos de desilusões.

    Segundo o dicionário, a desesperança é a falta ou a perda de esperança, pode ser um período de desilusão ou descrença. Ou mesmo um momento no qual estamos desesperados, sem qualquer esperança (DICIO, 2024). Perceba que o termo se refere tanto às pessoas que normalmente são um pouco mais negativas, sem esperança e pessimistas, quanto aos que passam por períodos obscuros. Alguns são naturalmente desesperançados, outros se tornam, com as batalhas da vida.

    Por isso, quando falamos em esperança, discorremos sobre princípios, pontos de partida que fundamentam a nossa vida. Quem perde a esperança, na verdade, revela como a sua esperança era frágil e fraca. É por isso que o salmista nos ensina onde devemos nos abrigar e colocar a nossa esperança. Ele afirma que:

    “Tu és o meu abrigo e o meu escudo; e na tua palavra coloquei a minha esperança” (Salmos 119:114) (NVI).

    Perceba como ele colocou a sua esperança na palavra de Deus, não foi em si ou em outras pessoas, o seu abrigo é Deus. E é isso que revela a desesperança, ela mostra como coisas e ideias muitas vezes são fracas. Por isso que precisamos colocar nossa esperança no que é Eterno e Soberano. E por mais que possamos enfrentar decepções e momentos complicados, nunca estaremos desesperançados.

    É ótimo falar sobre este o Salmo, visto que ele é o mais longo dos salmos, sendo o maior capítulo da Bíblia. Ele é um acróstico construído de forma muito hábil, estando ele dividido em 22 estrofes, sendo que cada uma das estrofes começa com uma letra do alfabeto hebraico, formando assim, o alfabeto todo, do início ao fim. O texto é um cântico de amor à Bíblia, a maioria dos versículos aponta para a palavra de Deus, mostrando a sua importância como fundamento para a vida cristã centrada (CONNELLY, 2017, p. 300).

    E a Bíblia é este princípio que precisa fundamentar a nossa vida, seja em dias de alegria ou desesperança. Ou buscamos o nosso abrigo em Deus, ou seguiremos à deriva, neste mundo caótico.

    Eu tenho os meus dias de dificuldades, momentos onde o caos parece ser a ordem do dia, mas como a esperança não vem de mim, sigo confiando no cuidado de Deus. A desesperança mostra onde estão os nossos fundamentos, ela muitas vezes revela que precisamos alicerçar a nossa vida no que é verdadeiro. Por isso, em meio à falta de esperança, você precisa ver quem tem sido o seu escudo.

    Quando a nossa esperança vem de Deus, a desesperança não tem abrigo e podem surgir problemas, mas nunca a falta de confiança em Deus.

    Bibliografia

    CONNELLY, Douglas. Salmos: Tudo sobre os Salmos, reunido e organizado de manira completa e acessível. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017.

    DESESPERANÇA. In: DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2024. Disponível em: https://www.dicio.com.br/epitimia. Acesso em: 10/07/2024.

  • A ERA DAS TREVAS EMOCIONAIS

    Mesmo com todos os avanços científicos e toda a tecnologia que temos em mãos, a nossa sociedade não tem conseguido evitar alguns males psíquicos, sendo que a depressão e a ansiedade são algumas destas enfermidades que têm crescido cada vez mais em nossos dias.

    Augusto Cury chama os nossos dias de Era das Trevas Emocionais, fazendo uma comparação com a chamada Era das Trevas da Idade Média, que semeou alguns medos e problemas na sociedade da sua época.

    Seguimos em meio a uma grande guerra emocional, onde a tecnologia tem ceifado a saúde mental de muitos. Nunca vimos tantas pessoas doentes como hoje, carentes de paz, diálogo e empatia, tudo por cauda da lei do menor esforço, sendo ela uma das causadoras de inúmeros males.

    É esta lei que leva pessoas a interagirem muito mais com personagens da televisão do que com pessoas na vida real. Ou fazer com que alguém mergulhe no celular por longas horas, ao invés de gastar um tempo com uma pessoa ou um bom livro. Um bom diálogo, uma boa amizade não tem preço, a solidão das redes sociais é nociva. Augusto Cury explica que:

    “A solidão na era das redes sociais é atroz, densa e asfixiante. Como não sabemos ter diálogo inteligente com os outros e até com nós mesmos, pensamos muito, sem qualidade” (CURY, 2019, p. 11).

    O diálogo com o outro é fundamental, somos seres sociais e precisamos estar junto das pessoas. O diálogo interno e a boa reflexão também são importantes. E só conseguimos fazer estes diálogos, quando não estamos em meio aos inúmeros estímulos e notificações que atrapalham o nosso pensamento.

    O silêncio e a solitude, bem como a reflexão e o diálogo que fazemos conosco, já são realidades visíveis, poucos costumam construir estes momentos. O individualismo e a condição de estar sempre conectado têm gerado adultos doentes, que não ouvem, muito menos dialogam.

    Outro ponto complicado desta nossa era, conforme pontua Augusto Cury, é o excesso de informação. É fundamental termos informação, mas o excesso dela é bem complicado. Saber selecionar e, em alguns momentos, colocar limites é fundamental para a nossa saúde. Em tempos de pandemia, eu precisei fazer isso, visto que, eram muitas notícias e Fake News que disseminavam o medo e o equívoco, que eu optei por estabelecer um limite. Muitos seguem com cefaleia, dores de cabeça e esgotamento, tudo porque permanecem mergulhados no excesso. Cury novamente complementa, expondo que:

    “O excesso de informação gera mentes estéreis, pois novos conhecimentos nascem nos solos das perguntas, não nas imensas planícies das respostas” (2019, p. 11).

    Equilíbrio e limites são práticas fundamentais para conseguirmos construir o saber de modo saudável e construtivo. Ter conhecimento e informação é fundamental, mas o excesso é complicado.

    Cultive amigos que serão seu apoio na caminhada, ter pessoas para dialogar e caminhar com você é muito importante. A reflexão a dois (ou mais) é algo muito valioso, mas também separe o seu tempo de solitude, aprenda a parar, pensar e refletir com calma sobre alguns assuntos e questões da sua vida, nem tudo precisa ser feito com pressa e rapidez.

    Por fim, coloque limites nas notícias e nos conteúdos que você acessa diariamente, o excesso de informação não é positivo, a qualidade da informação é muito mais importante do que a quantidade.

    Em meio aos nossos dias de exageros, nesta nossa nova Era das Trevas, precisamos ser inteligentes e cultivar uma vida construtiva, ao invés de ser sugado pelo redemoinho de excessos que é a internet. Ter uma qualidade de vida depende de você, por isso, construa uma vida equilibrada.

    Bibliografia

    CURY, Augusto. Inteligência socioemocional: Ferramentas para pais inspiradores e professores encantadores. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.

  • A MARCA DA DESOBEDIÊNCIA

    Meu avô gostava muito de eletrônica, era comum vê-lo montar placas de circuito e soldar inúmeras coisas. E é bem evidente que eu, uma criança curiosa, ficava ao seu lado observando tudo. O que me faz lembrar de uma história.

    Em um determinado dia, enquanto o meu avô soldava algumas peças (e eu insistentemente observava), com o ferro de solda nas mãos, ele avisou para que eu nunca tocasse naquela ferramenta, contudo, na primeira oportunidade que tive, eu mexi e queimei a mão, é evidente. O ser humano tem uma curiosidade estranha pelas coisas que são proibidas.

    Quando eu reflito sobre desobediência, me recordo deste episódio. É comum muitos acreditarem que algumas leis bíblicas são injustas e servem apenas para impedir alguém de fazer o que é legal, mas ao contrário do que pensamos, as leis de Deus servem para nos proteger. É como na história do ferro de solda, meu avô queria apenas que eu não queimasse a minha mão, assim sendo, a sua proibição era boa, era apenas para me proteger.

    Obedecer é um princípio fundamental na vida cristã, seguir aos mandamentos divinos, ao invés de pontos de vista próprios, é um ponto de partida essencial para quem segue Cristo. E sobre isso, o apóstolo Paulo nos ensina que:

     “Logo, assim como por meio da desobediência de um só homem muitos foram feitos pecadores, assim também por meio da obediência de um único homem muitos serão feitos justos” (Romanos 5:19) (NVI).

    Neste versículo, Paulo conclui uma reflexão que começa alguns versículos antes. Ele diz que foi pela desobediência de Adão (Romanos 5:12), que o pecado entrou no mundo, e é esta desobediência que faz do ser humano um pecador, mas foi pela obediência de Cristo, que somos salvos (Romanos 5:19). Obedecer é essencial, tanto que até Jesus obedeceu. E a desobediência é a marca daqueles que insistem seguir seus desejos e vontades. 

    Sobre o papel de Adão e o pecado Adolf Pohl nos explica que a humanidade não se resume em um grupo de pessoas que seguem isoladas, ao contrário, somos um corpo. Cada ser humano vive tendo um vínculo com as demais pessoas, para o benefício ou malefício de todos. E neste grupo de relações, o papel de Adão (Romanos 5:12) foi único, ele abriu a porta para o mundo de pecado no qual vivemos hoje (POHL, 1999, p. 96).

    No entanto, perceba como o nosso papel na sociedade também atinge a vida de outras pessoas. Pois vivermos em sociedade, assim sendo, as nossas ações muitas vezes interferem na vida dos outros. Seja quando eu não sou uma pessoa responsável no trânsito, quando não cuido da natureza ou mesmo não respeito a privacidade do outro ouvindo música muito alta, entre tantas atitudes que interferem na vida do próximo. O significado do termo, em grego, joga uma grande luz no assunto:

    “O significado é com certeza “recusar a ouvir” ou “recusar dar atenção a”, isto é, “desobedecer”” (LOUW; NIDA, 2013, p. 418).

    A desobediência é uma recusa em ouvirmos um aviso e, assim como Adão se recusou a ouvir o aviso de Deus e decidiu desobedecer, da mesma forma nós muitas vezes fechamos os nossos ouvidos para o evangelho e muitas vezes decidimos seguir da forma que melhor nos agrada. Este exemplo serve tanto para a nossa vida espiritual, quando insistimos em caminhar do nosso modo e decidimos não mais imitar a Cristo, quanto como cidadãos, quando insistimos em transgredir leis ou o espaço alheio em nome de um capricho próprio.

    Porém, o texto não fala apenas da desobediência de Adão, mas fala também da obediência de Cristo. No texto, o apóstolo Paulo usa Adão e Cristo como entidades representativas, enfatizando como os seus atos trazem consequências e determinam o curso da vida daqueles que pertencem a eles. Assim sendo, Adão acabou pecando e, por conta disso, o pecado trouxe morte a todas as pessoas. Entretanto, Jesus Cristo obedeceu e, por causa disso, trouxe vida e justiça a todos os que o seguem (CARSON et al, 2012, p. 1706). Por isso que, seguir a Jesus, mesmo que em alguns momentos não seja tão fácil, é ser um ser humano mais correto e centrado, é caminhar na obediência e na justiça, como o próprio Cristo caminhou. Ele obedeceu e morreu por nós.

    Este exemplo paulino nos traz uma pergunta: a quem você segue? Adão ou Cristo? Só há vida em Cristo, é só nele que temos perdão e justiça. Na primeira pessoa, a única coisa que herdamos é a morte, mas em Jesus nós temos vida, basta apenas fazermos a boa escolha.

    Com a história que contei no começo do texto, aprendi como a desobediência é uma ação muito egoísta. Eu desobedeci ao meu avô, que estava fazendo um trabalho, mas com a minha desobediência, ele precisou parar com a sua atividade e me atender, já que eu havia queimado a mão.

    Perceba como muitas vezes o ser humano não percebe como o pecado e a desobediência, além de desagradar a Deus, prejudica a outros. A marca principal da desobediência é justamente o egoísmo, é uma atitude que a pessoa toma para agradar a si, sem, muitas vezes, pensar nas consequências e no próximo.

    Por isso, imite a Jesus, aquele que obedeceu e morreu por nós sem reserva alguma. Siga aquele que não foi egoísta e morreu por indivíduos que não mereciam a mínima graça divina.

    Bibliografia

    CARSON, D. A.; FRANCE, R. T.; MOTYER, J. A.; WENHAM, G. J. Comentário bíblico Vida Nova. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2012.

    POHL, Adolf. Carta aos Romanos: Comentário Esperança. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 1999.

    LOUW, Johannes.; NIDA, Eugene. Léxico Grego-Português do Novo Testamento: Baseado em domínios semânticos. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013.